Nelson Ilha compara o Mundial de 420 com o rali Paris Dakar

 

Por Nelson Ilha- colunista da www.nautica.com.br

Mundial de 420: um Raly Dakar nas águas do Prata

Quando existia ainda o Camel Trophy anterior ao Rali Paris – Dakar, me inscrevi como voluntário para trabalhar junto à organização. Sonhava em fazer um rali destes pelo deserto. Não fui chamado. Anos mais tarde fui, à Patagônia de Kombi em um verdadeiro rali pelo deserto do sul da Argentina. Não satisfeito, em 2009 fizemos o norte da Argentina pelos desertos de Atacama, descendo pelo norte do Chile, na mesma Kombi. Encontramos no final de janeiro os participantes do rali em Valparaíso.

Neste ano, fui convidado para compor o Juri do Mundial da Classe 420 em Buenos Aires, durante o final de ano. O campeonato teve 96 inscritos de 18 países. As regatas foram na maioria de ventos fortes. Por tratar-se de uma classe na maioria composta de jovens advindos do optimist, muitos sofreram capotagens que acabaram resultando em quebras de mastros. Alguns comentaram se tratar de um verdadeiro rali, devido às dificuldades encontradas. O Rio da Prata é muito raso e os mastros cravam no fundo, dificultando a manobra de desvirar.


Foto DPPI
O Rally Dacar aconteceu simultaneamente na Argentina, e na água as condições foram parecidas

No dia 1º de Janeiro não houve regatas e pudemos assistir à largada do Rali Dakar junto ao monumento Obelisco no centro de Buenos Aires. Com recorde de 94 motos, 14 quadricíclos, 55 carros e 41 caminhões competindo, mais algumas dezenas de carros de apoio, esta 33ª edição do rali atrai mídia do mundo inteiro. Nesta edição fizeram a região que fizemos do norte da Argentina, portanto os locais são bastante familiares, claro que a maioria do percurso feito por eles é Off Road.

 

Como na classe 420, a exemplo da classe 470, é usada a bandeira Oscar para indicar que a regra 42 é liberada, exceto para remar, os barcos do júri ficaram como apoio dos velejadores, fazendo muito mais o trabalho de salvatagem do que julgando a ação dos velejadores. Mas controlando a situação cada vez que se avistava um barco virado. Não houve um dia que o júri atendeu pelo menos algum caso que foi necessário prestar auxilio.

No campeonato Open, a festa foi argentina com a vitória de Pablo Voelker, filho do projetista naval argentino Nestor Voelker. O melhor brasileiro foi Henrique Haddad com Nicolas Castro, que terminaram na 15ª posição.

Foto: Carlos Cambria
Os velejadores durante "rali" no Mundial de 420

No feminino, a vitória foi da inglesa Annabel Vose e Megan Brickwood. A única equipe feminina que representou o Brasil foi composta pelas velejadoras Leticia Nicolino de Sá com Karina Pedreira que acabaram em 35º lugar e dois mastros a menos.

 

 

O troféu de melhor equipe ficou com a Inglaterra, que colocou 6 barcos entre os 10 primeiros, demonstrando que esta fazendo um excelente trabalho de base na formação de novos talentos. Sendo a classe 420 o berço dos velejadores da classe 470, ela é considerada estrategicamente muito importante por muitos países.

No Brasil, alguns estados têm os barcos 420 sucateados nos galpões, o que é uma pena, pois é se trata de um barco relativamente barato e forte para agüentar as condições de nossos ralis aquáticos.

Nelson Ilha é velejador, árbitro olímpico e juiz internacional da ISAF.