Os Pombos-correio de Leopoldo Geyer

Por Danilo Chagas Ribeiro

Em janeiro de 1945, o patrono do Veleiros do Sul, Leopoldo Geyer, velejou de Porto Alegre a Rio Grande, em seu veleiro Ciclone, da classe Jangadeiro, com apenas 5,5m de LOA. Com ele, partiu também o veleiro Nirvana, de 24 pés, da classe Guanabara, de Breno Caldas. Sem dúvida alguma, seria uma missão dura em barcos deste porte, sem previsão meteorológica. Não havia a bordo rádio para comunicação. No dia seguinte à partida, Geyer resolveu atracar na ilha do Barba Negra, na Lagoa dos Patos, para soltar o primeiro pombo-correio que levaria notícias.

Pombo?... Para mandar notícias?...

Havia um bando de pombos engaiolado nos pequenos veleiros. Imagine o cenário, o espaço que ocupavam, a sujeira, o cheiro e tudo o mais que isso implicava a bordo. E tinham que comer e beber. A cada um ou dois dias, um pombo era solto para enviar as notícias para casa.

Mas como um pombo pode enviar mensagens?

Os Pombos-correio, de uma espécie diferente dos pombos comuns, tem "fidelidade ao sítio de origem", voltando de onde são soltos até seu ponto de origem. Há registros de competições internacionais, de vôos de retorno de 1.000km, que podem incluir paradas para comer e beber. Podem ser alvos de predadores, como o gavião, e até de humanos, como pode ter ocorrido com um dos pombos de nosso patrono. Em 01/01/1945, Leopoldo Geyer escreveu: "Às 7 horas soltamos o 4º pombo, que após pequena revoada, pousou em terra, na praia. Soubemos que êsse pombo chegou sem a mensagem; provavelmente fôra retirada pelos pescadores que se encontravam nas proximidades". As mensagens escritas em papel eram fixadas às patas dos pombos.

Cova enfeitada no enterro dos pombos naufragados

Com o vento forte na lagoa, os velejadores resolveram ancorar e dormir embaixo de árvores, a 1km da praia. Durante a noite, o Ciclone, encalhou em um banco de areia, onde foi encontrado na manhã do dia seguinte com água até a borda. Os paineiros flutuaram e assim perderam algumas coisas a bordo. Escreveu Leopoldo: "O mais triste de tudo foi a perda de dois pombos correio, que sucumbiram dentro do cêsto que também deu à costa. A êsses fiéis mensageiros prestamos a nossa homenagem, sendo enterrados no Capão Três Irmãos e enfeitada a cova com flores agrestes".


Manha para a decolagem

Depois de passar a noite junto ao farol Cristóvão Pereira, no escuro, no amanhecer de 07/02/45, Leopoldo escreveu: "de manhã, fomos a terra para prepararmos a mensagem que o último pombo levaria, tranquilizando as nossas famílias, que deveriam estar apreensivas com a nossa demora, visto que o último pombo havia sido enviado de Barra Falsa, dia 2 de fevereiro. Nessa ocasião avistamos o “Nirvana”, que já de velas enfunadas vinha ao nosso encontro, bordejando. O nosso proeiro que estava no “Ciclone” içou as velas e com isso fêz com que o “Nirvana” desse meia volta e se fizesse ao largo. Começou então a nossa caça ao “Nirvana”, que tinha em seu iate o último pombo existente; mas não havia jeito de alcançálo. Por sorte, diminuiu o vento e com isto conseguimos andar mais do que êle, aproximandonos o suficiente para que vissem o nosso sinal de esperar. Passado o cêsto com o pombo para o nosso barco, pusemos a mensagem e soltamos o pombo, que fêz revoadas sôbre os barcos, acabando por posar no “Nirvana”, junto ao Dr.Breno, que estava no leme. Aí permaneceu por espaço de 2 horas, comendo e bebendo e, somente quando avistou terra, pulou para cima da cabine. Bem de fronte de Tapes, levantou vôo e rumou para Pôrto Alegre".

Fonte: Transcrição dos diários de Leopoldo Geyer publicadas pela revista Yachting Brasileiro nº 6, Abril de 1945, por Carlos Altmayer Gonçalves, o Manotaço, para o Popa.com.br, em Abril 2004.

*As matérias escritas por colunistas expressam as opiniões dos autores, sem interferência do Clube. Portanto, não servem como porta-voz do Veleiros do Sul.