Coragem, determinação e aprendizados marcaram a trajetória da tripulação feminina do Bravíssimo 2 no 29º Circuito Conesul Golden Lake de Vela de Oceano

Sob a orientação dos comandantes Felipe e Nelson Ilha, atletas Ana Fraquelli, Catarina Gick, Luiza Moré e Manuella Toimil tiveram grande experiência na 50ª Regata Troféu Seival Golden Lake.

Guerreiras nas águas, corajosas nos desafios das competições e orgulhosas por representaram a vela feminina em uma das regatas mais difíceis e tradicionais da classe oceano no Rio Grande do Sul. Estas são algumas das características que definem a tripulação das jovens atletas do Veleiros do Sul que disputaram a 50ª Regata Troféu Seival Golden Lake a bordo do veleiro Crioula - Bravíssimo 2, sob a orientação dos Comandantes Felipe Ilha e Nelson Ilha.

A experiência de velejar em uma regata longa ficou marcada para as velejadoras Ana Fraquelli, Catarina Gick, Luiza Moré e Manuella Toimil, que obtiveram muitos ensinamentos e aprendizados já mesmo antes do início do 29º Circuito Conesul Golden Lake de Vela de Oceano. É o que destaca o Comandante Felipe Ilha, que classificou o desempenho na regata como resultado do trabalho de toda a equipe e ressaltou a importância do planejamento antecipado feito antes do evento: “Cada uma ficou responsável por uma parte do planejamento de tarefas para que elas entendessem a necessidade de uma preparação prévia. Sendo assim, todas participaram com muito engajamento dessa etapa, que para nós já marcava o início do evento mesmo antes das regatas”, disse Felipe.

A iniciativa já vem de um trabalho desempenhado por Nelson Ilha com o objetivo de promover a inclusão de tripulações jovens em regatas de oceano, preparando a as atletas da vela feminina para os desafios da classe e destacando o trabalho em grupo dividido em três momentos: pré-regata, regata e pós-regatas. “No ano passado fizemos um trabalho de preparação com reuniões para entender a logística no planejamento e no trabalho da navegação, além de estudar as cartas náuticas e participar de algumas regatas mais curtas. Elas participaram de todas as atividades e a característica mais importante é que elas são um grupo, e isso é bom porque faz com que se mantenham ainda mais motivadas, com mais vontade e mais seguras para conseguir enfrentar os desafios. Após toda a preparação, nosso papel é coordenar para que elas consigam desempenhar uma boa regata”, conta Nelson.

Regata Seival foi marcada por condições atípicas

“Foi uma regata muito difícil, com situações completamente atípicas”, é o que conta Felipe Ilha ao falar sobre a 50ª Regata Troféu Seival Golden Lake, o evento mais tradicional da vela de oceano do Rio Grande do Sul. Em suas mais de 88 milhas náuticas de percurso nesta edição especial, a regata ficou marcada pelas condições extremas enfrentadas pelas tripulações no último dia do 29º Circuito Conesul Golden Lake, com ventos fortes e temporal na noite do dia 19 de setembro.

“A regata começou com pouco vento e, após a largada, as condições foram variadas. Em uma regata, você larga praticamente com o vento que tem e se prepara para as mudanças que acontecem durante o percurso, pois as condições sempre vão mudar. Além disso, o percurso é composto por boias, canais, ilhas, então é preciso avaliar cada uma dessas áreas, pois elas possuem peculiaridades específicas”, detalha o Comandante.

Ao chegar na Lagoa dos Patos, a embarcação encarou o temporal. Com isso, a decisão foi realizar o remanejamento da tripulação, colocando duas meninas nas cabines e duas no cockpit, além de abaixar as velas rapidamente, conforme revela Felipe. “O maior desafio foi montar as Desertas. Depois disso viemos de través e voltamos em Itapuã planando, com bastante adrenalina e muitas rajadas no Itapuã, que vinham quase de surpresa e exigiam uma atenção. O J24 mostrou que é um barco muito marinheiro e capaz de enfrentar condições de vento muito desfavoráveis com o planejamento”, completa.

As situações e desafios da regata demandaram ainda mais atenção das jovens tripulantes que estava participando de uma regata longa pela primeira vez. Para Manuella Toimil, o que motivou a participar da Seival foi a chance de testar os seus limites e ter novas experiências, além dos aprendizados adquiridos durante a regata. “Meus principais ensinamentos com Nelson e Felipe foram de aprender a tomar decisões em situações extremas e de como é importante você manter a calma para tomar as decisões certas. Quando estávamos nas Desertas, entrou um temporal com muito vento e eles optaram por abaixar as velas e esperar a situação melhorar um pouco para pensar mais pela nossa segurança e pelo equipamento. Então, aprendi como é importante manter a calma e pensar muito bem antes de tomar qualquer decisão, principalmente em situações de muito vento e perigo”, completa Manuella.

A velejadora Ana Fraquelli também destacou a experiência na montagem das Desertas como “um dos principais desafios da regata devido às condições de tempo enfrentadas pela tripulação, como os fortes ventos, chuva e a quantidade de raios durante o temporal”. A experiência de fazer algo novo e fora da zona de conforto foram algumas das motivações que incentivaram Ana a participar do desafio de uma regata longa e cheia de aprendizados. “A experiência de correr em uma Seival foi incrível, sem dúvida inesquecível e ainda por cima com a oportunidade de participar com Nelson e Felipe, que são extremamente experientes. Os principais ensinamentos foram que mesmo passando por dificuldades, é preciso focar nos objetivos para atingi-los, independente do que possa acontecer durante a trajetória”, disse Ana.

Passado o principal desafio da regata, o Comandante Felipe conta que o veleiro saiu do estado de contingência e voltou para a regata normal, em uma velejada “raiz” com todo mundo na borda e marcada por pelo frio e muitas ondas. Depois deste momento, a tripulação encontrou condições de vento fraco, o que fez com que ficassem próximos à Ilha Chico Manuel aguardando. “Após isso conseguimos abrir uma vantagem sobre o Ângela em uma parte da regata com menos vento de rajada e mais estratégica, além de muita corrente empurrando o barco”, disse.

Regata finalizada com resistência e muita vontade

Após 21 horas de variadas condições entre o Guaíba e a Lagoa dos Patos, a tripulação do Bravíssimo enfrentou as adversidades com muita determinação, foco e força de vontade para completar a 50ª Regata Troféu Seival Golden Lake. Junto com os aprendizados da experiência, o veleiro garantiu o 4º lugar na classificação geral da classe ORC, encerrando no top cinco do evento.

Muito além do resultado, a principal recompensa que fica para as velejadoras é a oportunidade de desenvolver ainda mais conhecimento na vela. ”O sentimento depois de 21h de regata foi de felicidade extrema. Nós nem acreditávamos quando estávamos passando a linha de chegada. Ficamos felizes com o resultado na classificação, mas o mais importante foram todas as coisas que aprendemos durante a regata”, conta Manuella ao falar sobre o momento em que a embarcação finalizou o percurso na linha de chegada e, ao mesmo tempo, destacando que já quer participar de mais regatas da classe oceano e da próxima Regata Seival. “O sentimento com o resultado na classificação geral foi acima do esperado, e fez com que a gente encerrasse essa experiência da melhor forma possível”, completa Ana Fraquelli.

Velejadoras na chegada da regata longa.

Para os comandantes, a experiência agregou para o conhecimento náutico das atletas e, ao completar a regata, concluiu os ensinamentos compartilhados que culminaram na conclusão da Seival. “O que nós esperávamos é que elas entendessem o que estava acontecendo e que desempenhassem o que tínhamos organizado no planejamento. Claro que foi uma situação adversa, mas a calma e a tranquilidade foram essenciais para ajustar nossa condução em uma condição extrema”, disse Nelson Ilha. “Não foi uma regata fácil. Elas mostraram resiliência, resistência e a vontade de concluir com maestria um evento deste. São valores que elas aprenderam e utilizarão daqui para frente em sua carreira na vela”, completa Felipe Ilha.

Atletas foram homenageadas na cerimônia de premiação do 29º Circuito Conesul Golden Lake.