

Ducão conta como eram feitas as ferragens de barcos no passado
Por Ricardo Pedebos
De suas mãos hábeis ainda são moldadas peças de metais na pequena oficina à beira do Guaíba, na vila ao lado do Veleiros do Sul. Tem sido assim a mais de 50 anos a vida de Ricardo Juares Ferreira, 64 anos, conhecido no meio náutico como Ducão. Artesão de primeira linha recebeu do seu padrasto Romeu Gloor, a tradição de fazer ferragens para barcos do tempo que os cascos eram de madeira e as velas de algodão.
Ducão lembra que na década de 1950 aqui não havia fabricas de material náutico em série, diferentemente de hoje onde o mercado é dominado por empresas nacionais e estrangeiras. Porém ainda há pessoas que preferem seu trabalho. “Tem gente que ainda me procura, às vezes por que precisam algo especial em ferragem. Eu mesmo corto a chapa, dobro, dou acabamento e monto as peças, uma fica igual à outra”, diz orgulhoso.
Aos 16 anos, o já então metalúrgico Ducão foi trabalhar no conhecido estaleiro de Casemiro Durajski que funcionou na Av. Copacabana na década de 1960, onde o padrasto já trabalhava. “Lá fabricavam vários tipos de barcos de madeira, Snipe, Pingüim, Guanabara e as ferragens eram com a gente”. Recorda também que conforme iam sendo construídas novas classes, eles precisavam aprimorar as peças para atender as necessidades do desenho dos barcos. Nos anos 60 ele e o padrasto começaram a fabricar mordedores que tinham um sistema de engrenagem muito eficiente para prender os cabos. “A gente levava os mordedores para serem vendidos nas competições em SP e no RJ. Tinham boa aceitação”, conta.
Desse tempo, Ducão ainda guarda na oficina como uma espécie de relíquia o primeiro moitão feito por Romeu, no começo da década de 50, e até conta uma história sobre isso. “Certa vez uma pessoa viu o moitão e quis comprar para seu barco, mas eu disse que não estava à venda. Porém ele insistiu e argumentou que na vida tudo tinha um preço. Então ouviu de mim que não trocava nem pelo seu carro, um Opala novo na época. Naturalmente se retirou ofendido comigo.”