Morte na America's Cup está diretamente ligada à opção tecnológica

Fonte: Antônio Alonso, Sobre as águas

Coisas ruins acontecem. É a vida. Especialmente quando você leva material e tripulações ao limite, como acontece na America's Cup. O vídeo acima mostra, como o One Australia, em menos de três minutos quebrou no meio e afundou no pacífico durante as seletivas da America's Cup de 1995. Naquele dia, uma das catracas quebrou durante a velejada, e os trimmers decidiram passar o mesmo cabo numa catraca posicionada mais atrás no barco. A mudança de forças foi o suficiente para quebrar o barco ao meio.

Muita gente deu sua opinião depois da morte de Andrew "Bart" Simpson durante um treino do time Artemis (leia sobre o acidente aqui), e alguns acharam "normal" o fato de uma morte acontecer num ambiente onde se vive no limite. Desculpem, mas não é. A última morte na America's Cup aconteceu se não me engano em 1999, quando uma peça do barco se soltou e atingiu a cabeça de um velejador, matando-o instantaneamente. Isso é um acidente raro, que poderia ter acontecido em terra.

 

O que está acontecendo na America's Cup atual é bem diferente, muito mais perigoso e todo mundo sabe disso, já que os velejadores carregam consigo uma garrafa de ar comprimido para o caso de capotagens.

Capotar um catamarã de 22 metros, como são os AC72, pode equivaler a uma queda de um prédio de sete andares. Catamarãs capotam eventualmente. Catamarãs que voam sem nenhum casco na água, apoiados em hidrofólios, capotam muito mais. Está aí a longa história de acidentes do L'Hydroptère para confirmar. Portanto, esse foi um risco calculado e — pior — que pode voltar a acontecer. Calculado porque de um lado da balança estava o potencial de retorno de mídia, com um barco enorme e "radical", e de outro a segurança (e a tradição do esporte). Fizeram a escolha por um dos lados.

A lenda da Vela Paul Cayard chefão da equipe sueca Artemis, está sendo bastante criticado pelo silêncio após a morte de Andrew. É bastante claro que tem erro nesta meleca. Como eu falei, o Artemis foi desenhado para não ter fólios. Posteriormente, Cayard pediu que fossem adicionados fólios ao barco, o que muda completamente o equilíbrio das forças quando o barco veleja. Eu não sei nem se esse barco que quebrou já tinha recebido alguma modificação para ter os fólios. Não sei por que o silêncio é total. Ou quase.

Cayard aparece em um vídeo de 30 segundos lamentando a morte de Andrew, solidário à família e aos amigos do velejador britânico. O time Artemis também divulgou um comunicado, no qual pede que a imprensa pare de especular sobre o acidente. Ora, dessas especulações podem sair a crítica que vai impedir que um novo acidente desses aconteça. Do silêncio do Artemis eu acho muito difícil a Vela tirar algum proveito.