Novos ventos para o iatismo nas águas de 2016

Fonte: O Globo

Após um desempenho pífio nas Olimpíadas de Londres, o pior desde Barcelona-1992, com apenas o bronze de Robert Scheidt e Bruno Prada na classe Star, a vela nacional começa mais um ciclo olímpico ainda sem saber o que esperar. A equipe que receberá verba para treinamento e competição em 2013 já está pronta, mas as dúvidas sobre como isso será feito são grandes.

A Confederação Brasileira de Vela e Motor (CBVM), que ficou sob intervenção do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) de 2007 a 2012 por causa de dívidas em torno de R$ 100 milhões, originárias de execuções judiciais e de multas relativas à ligação com os bingos, já não responde mais pela modalidade. Para o seu lugar, foi criada a CBVela, que já está em funcionamento, mas ainda não oficialmente. Para tal, precisa se filiar à Federação Internacional de Vela, ser devidamente reconhecida pelo Comitê Olímpico Internacional e ter seu estatuto aprovado pelo Conselho Executivo do COB. Através da assessoria de imprensa, o COB informou que “respeitará qualquer decisão tomada pela comunidade da vela em favor do desenvolvimento da modalidade.”

Coordenador técnico da nova entidade, o velejador Eduardo Penido, ouro nas Olimpíadas de Moscou-1980 na classe 470, acredita que esse processo deve estar resolvido em dois meses.

— Não podemos mais parar o esporte. Tivemos esse mau resultado nas Olimpíadas, mas a vela continua forte, é terceira do ranking mundial, atrás só dos Estados Unidos e da Austrália, e acreditamos que essa é a hora da retomada — diz Penido, negando que a CBVM será simplesmente jogada para escanteio. — O financiamento dos bingos (que foram proibidos de funcionar em 2004) foi muito útil para a vela, mas depois os administradores anteriores tiveram problemas de lidar com o que ficou. Agora, a gente tem o dever de assumir essa dívida. Vamos buscar a anistia, tentar descobrir os responsáveis por isso. Tem que haver um jeito.

Reeleição proibida por estatuto

Entre os atletas, a nova entidade está sendo recebida com um misto de confiança e pé atrás. Integrante do conselho técnico da CBVela, que ainda tem Robert Scheidt e Torben Grael, Fernanda Oliveira, bronze na 470 em Pequim-2008 ao lado de Isabel Swan, espera os novos passos da CBVela para programar seu ano de treinamento.

— A gente já sabe que não vai ter dinheiro para todas as equipes durante toda a temporada. Mesmo assim, estou na expectativa e acredito que existe uma boa intenção dos novos dirigentes. Não temos nossas necessidades bem atendidas, como técnico, participação em eventos, equipamentos, e o dia a dia na vela é muito complicado, mas todo mundo torce para que o esporte volte a funcionar normalmente — comenta ela, que está em sua segunda campanha olímpica ao lado de Ana Luiza Barbachan. — Para um ciclo olímpico onde os Jogos vão ser no Brasil, a gente já está atrasado.

— Foi uma gestão complicada sob intervenção, então, essa é uma chance de ouro que a vela está tendo para montar um projeto do jeito que tem que ser, com novas pessoas, novas ideias, mais profissionalismo. Se caminhar assim, eu acho que o Brasil terá chances reais de pelo menos quatro medalhas no Rio — aposta Bruno Prada, que após oito anos na Star ao lado de Scheidt, está de volta à classe Finn.

Presidente da Federação de Vela do Estado do Rio, Marco Aurélio Sá Ribeiro foi escolhido pelos outros presidentes de federações para estar à frente da CBVela. Em dois anos, haverá uma eleição para escolher o dirigente da entidade até o fim do mandato. Sá Ribeiro poderá se candidatar, mas, ao contrário das demais confederações, ele não poderá ficar no cargo mais do que quatro anos.

— Somos a única confederação do Brasil que, em seu estatuto, proíbe a reeleição do presidente — garante Eduardo Penido.

Além de boas intenções, os novos dirigentes precisarão de jogo de cintura para fazer render a verba de R$ 3,5 milhões, oriundas da lei Agnelo/Piva, prevista para 2013. Como a entidade ainda não está formalizada e a CBVM não pode receber recursos, esse valor continua sendo gerido pelo COB.

Até porque o projeto da CBVela para 2013 é abrangente. Além dos velejadores das sete classes olímpicas que venceram a Semana Brasileira de Vela, a entidade pretende apoiar outros atletas que não conseguiram a vaga na equipe, mas estão competindo em alto nível, como é o caso de Bruno Prada, na Finn, e Bruno Fontes, na Laser.

— Em alguns casos, como na Laser radial e no 49er, não queremos destacar um único atleta ou dupla. Essas classes ainda precisam evoluir mais. Nossa ideia é investir no treinamento aqui e levá-los para disputar uma competição internacional, provavelmente o Mundial. Isso não foi feito nas administrações anteriores. A gente só quer levar quem estiver indo bem — afirma Penido.

Para Ricardo Winicki, se ainda não é o cenário perfeito, a proposta da CBVela é uma luz no fim do túnel:

— O ideal seria que a confederação apoiasse três, quatro por classe, mas não tem dinheiro, e acaba ficando sempre só os melhores. Agora, eles estão querendo fazer diferente e isso é muito importante.

Otimista, o bicampeão olímpico Robert Scheidt concorda:

— Depois de uma confederação tão problemática nos últimos tempos, estou vendo uma equipe muito bem intencionada. Infelizmente, os recursos são limitados e vai ser um grande desafio atender a todas as demandas, mas, pela primeira vez, sinto os atletas bem interessados. Acho que vamos começar a pavimentar a estrada para 2016.