Artigo: A velha lenda do balão

Por Ricardo Macchion - blog um homem do mar

Nesses muitos anos competindo, tive a chance de vivenciar muitos momentos do balão, alguns engraçados como o velho sutiã, outro nem tanto, como uma bela atravessada com um barco com mais de 40 pés, mas nesse texto, gostaria de dividir os detalhes para os iniciantes ao Iatismo de uma subida e do recolhimento do balão.

artigobalao

Primeiro devemos conhecer o que compõe essa vela e sua utilização, considerando que utilizaremos um balão simétrico, ou seja, com lados iguais, devemos conhecer suas escotas, normalmente as embarcações possuem escotas que já sinalizam suas posições de bombordo e boreste através das cores verde e encarnada (vermelha)

Caso as escotas não sigam esse padrão, existe a possibilidade de haver um filete de cada cor (verde e encarnada) identificando a posição correta do balão, evitando que o mesmo seja montado ao contrário, facilmente identificado pelo numeral que estará voltado para trás.

Uma peça fundamental na montagem do balão é o pau de spi, também conhecido como pau e que é içado pelo amantilho. Sua função é mantê-lo aberto por BARLA para que o baloneiro controle o barla, nesse também existe o burro, que tem como função principal controlar a altura da saia, parte inferior do balão, folgando ou caçando o pau.

Além dessa comissão de frente, temos dois carinhas muito importantes próximo às catracas, os barbers. Os barbers são pequenos cabos com um pequeno moitão na ponta para que as escotas sejam controladas em cada ângulo de navegação, ou seja, sempre na escota de barla o barber deve ficar folgado enquanto o barber de sota deve ficar caçado e no jaibe os barbers são alterados em função da posição do balão.

Um problema bastante comum é com as escotas, dependendo da intensidade do vento, se passadas de forma errada, podem causar uma grande perda de tempo para a correção, trazendo um grande problema para a performance na regata. Não é tão incomum alguém passar a escota ao contrário na catraca, causando um enorme problema. Para evitar isso, vale lembrar que as escotas sempre são passadas no sentido horário, independente da catraca, as do piano, das escotas, dos runners, todas no mesmo sentido e tanto faz se está de frente para a proa como para a popa, a direção é sempre a mesma.

Normalmente o balão fica guardado num saco, onde é guardado passado, ou seja, é dobrado do lado certo e pronto para o uso com os punhos todos juntos. Bastando apenas engatar a adriça e as escotas de barla e sota.

O trabalho é realizado em equipe num barco de oceano, principalmente quando a situação é uma regata de barla-sota.

Quando o barco está sendo preparado para a regata, as escotas já ficam passadas, ou seja, considerando que já se saiba por qual lado o balão irá subir, ficam unidos pelos gatos (engate rápido existente nas extremidades das escotas e da adriça) Para preparar a subida do balão, primeiro devemos verificar se o amantilho está preso ao pau de spi, em seguida o pau deve está posicionado para ser içado, alguns barcos tem um olhal fixo ao mastro outros um pino com um carrinho, mas independentemente do tipo, a fixação do pau deve ser executada e com sua outra extremidade deve ser encaixada à escota de barla, sendo a mesma repicada (ajustada) para fora do stay de proa, evitando problemas na subida do balão.

Em geral o burro do pau fica folgado ou com uma pequena folga, isso é uma regulagem e cada barco tem a sua em função da melhor navegada, mas com essas funções já feitas é hora de deixar o pau na posição, caçando o amantilho que normalmente fica num dos stopers do piano, o amantilho é um tipo de adriça uma vez que é utilizado para içar, mas não é chamada de adriça por não içar velas, essa é a diferença.

Içado o pau, escotas e adriça passadas nos punhos, barbers ainda folgado, tudo pronto para a tão esperada hora. Ainda navegando à contra vento devemos lembrar que a última função da subida do balão é estourar a adriça da buja ou genoa.

No barco de oceano nos referimos à vela da proa como genoa, para iniciarmos a subida do balão vamos conferir as escotas que devem estar passadas nas catracas de barla e sota, ficando a de barla repicada, pois, é ela que fará o controle da abertura do balão, e mais tarde podendo também ser usada a escota de sota para seu melhor ajuste.

Ao comando do timoneiro e para evitar problemas como um futuro rasgo, um dos tripulantes poderá ficar posicionado à sota para safar o balão, permitindo uma saída limpa e rápida, cabendo ao piano apenas caçar a adriça o mais rápido possível e ao mesmo tempo o tripulante incumbido das escotas caçará o barla para que o balão além de subir, se abra o mais rápido possível, restando apenas os ajustes dos barbers, antes de todos os ajustes finos, decididos normalmente entre baloneiro e timoneiro.

Como ponto de atenção, vale lembrar que, o pau deve estar posicionado à barla, ou seja, sempre o pau está posicionado no lado contrário ao lado que o balão subirá, se o balão subirá por bombordo, o pau está a boreste.

A descida do balão também tem os seus segredos, sempre o mesmo deve descer por sota, ou seja, por trás do grande e com a buja ou genoa já içada, ao contrário da subida do balão, agora a buja é a primeira fase da descida do balão. Com a buja em cima é chegada a hora de descer o balão, muito importante é saber que a decida deve ser rápida e precisa e para isso o trabalho em equipe é muito importante. A vela ainda está sob pressão quando for iniciado o procedimento, e por isso será necessário um tripulante para estourar a escota de barla, restando ao piano e quando necessário, à mais um tripulante a função de, com a escota de sota em mãos, juntar ambos os punhos, barla e sota, formando um charuto e em seguida estourando a adriça do balão párea que, em longas e rápidas braçadas o traga para dentro da cabine.

O procedimento do subir e descer o balão de um veleiro para parecer fácil, mas qualquer descuido ou desatenção pode trazer problemas sérios. Bons ventos!