ARTIGO: Alma de velejador

 

Este artigo foi escrito pelo velejador norte-americano Bernie Ferencik  para a coluna Ponto de Vista, da revista Sail, em 1993. Seu conteúdo é sempre atual.*

 

Alma de Velejador

Não sou uma pessoa rica. Quando tive que substituir o motor de popa de meu barco, eu me perguntei sobre a imprudência de despender todo esse dinheiro. Não seria melhor por o dinheiro no Banco? Todavia, quando adquiri o novo motor e retornei para a água, a despesa pareceu-me insignificante, comparada com a alegria de velejar. Avaliando a alegria de navegar em dólares e centis, estes me pareceram sem significação. Estar na água, fez algo maravilhoso acontecer em minha alma.

Nós velejadores, somos pela abençoados pela experiência de estar na água. Sempre observei como eram os marinheiros; sempre me senti compelido a acenar para as pessoas de outros barcos, mesmo quando estavam muito distantes, e eles sempre retribuíam alegremente. Sempre pensei que poderíamos resolver todos os problemas do mundo, se todos pudessem sair em barcos.

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Os velejadores também são abençoados pelo movimento do vento e o efeito que tem em nossos barcos. Com apenas um sussurro de água precipitando-se pelo casco, o barco move-se suavemente e graciosamente. Ao contrário dos outros serviços na vida, o vento transporta o meu barco e não manda a conta. E o vento faz seu trabalho em todos os tipos de variações, às vezes gentil, às vezes forte, mas sempre interessado. Nenhum dia é exatamente igual ao outro.

Finalmente, os velejadores são abençoados pelo ambiente natural em que navegam. Estou continuamente me surpreendendo com a beleza que vejo quando navego. Um dia, é um bando de pelicanos movendo-se graciosamente, ocasionalmente mergulhando do céu para a água; e outro, é a majestade dos gansos, voando em formação. As vezes, é simplesmente uma borboleta pousando em minha genoa para uma travessia até o outro lado do rio, flutuando no ar graciosamente em sua passagem, um outro milagre que vem enriquecer meu dia.

Quando é hora de voltar para o trabalho, na segunda-feira de manhã, sinto-me refrescado e renovado. Sou mais feliz e sinto-me mais livre. Sou mais generoso com meus colegas. Sinto que é mais fácil rir e fazer os outros rirem. Sou mais produtivo. Minha alma foi renovada.

Não sou uma pessoa rica, mas quando estou na água, sou rico da maneira que realmente conta – emocionalmente, mentalmente, espiritualmente. E isso não tem preço.

* Na época deste texto ele possuía um veleiro Catalina de 22 pés, em Pungo River , na Carolina do Norte.