Nelson Ilha comenta decisão da ISAF na sua coluna na Náutica Online



Nelson Ilha
Bizarro

Quando em 2000 em Edimburgo na Escócia, representei o Brasil pela primeira vez no Conselho da ISAF, a pauta principal era a decisão das modalidades e equipamentos que seriam usados em Atenas nos Jogos de 2004. Com um sistema de votação complicado e dirigido para atender interesses, como, por exemplo, evitar a votação entre o Finn e o Laser, o que seria normal, resultou em uma batalha entre o Star e o Soling e na entrada do Yngling como classe Olímpica.

Numa época que a ISAF estava investindo forte na formação de árbitros de Match Race, a saída do Soling representou a saída desta modalidade das olimpíadas, mesmo sendo as finais de Match Race junto a Opera House, um dos pontos altos dos Jogos de Sydney 2000.

Já o Yngling, além de ser mundialmente desconhecido, caro, não havia fábrica capaz de suprir a curto prazo o equipamento aos países interessados em investir na classe. Com esta decisão muitos países foram exilados da possibilidade de lutar por esta medalha.

Ao sair da reunião, tive muita dificuldade para explicar o que havia acontecido, qual a lógica por trás das decisões, que grupo de países foram beneficiados e como com as decisões.

O fato se repetiu em 2006, quando excluíram o multicasco das olimpíadas de Londres, mostrando uma insensibilidade enorme com grande parcela de velejadores que utilizam este tipo de equipamento, cada vez mais popular no mundo.
Já em 2010, na votação para os equipamentos que serão utilizados no Rio de Janeiro em 2016, voltou o multicasco, mas em compensação foi excluído o barco de quilha masculino. Esta decisão foi tão controversa que foi transferida para maio de 2011 na reunião de São Petersburgo, na Rússia. Nesta reunião a decisão foi ainda pior, pois além de excluir o barco de quilha masculino, excluíram também o feminino. A classe Star que no Brasil tem seus maiores heróis Olímpicos, Torben Grael e Robert Scheidt velejando com reais chances de medalhas, causando uma enorme decepção junto ao público e aos organizadores dos Jogos.

Da mesma forma o Match Race feminino, era uma das estrelas do Rio 2016, com as regatas programadas para serem realizadas junto a Praia do Flamengo com enorme cobertura de TV e público. O Brasil já havia feito importante investimento ao trazer 6Elliots, estruturar Centros Olímpicos em Porto Alegre e Niterói, visando 2012 e 2016. Fora o Brasil, 98 Elliots foram comprados, mostrando que os países acreditam ser a ISAF um órgão sério que se pode acreditar. Muitos destes barcos ainda não foram nem entregues. O barco do Peru, por exemplo, ainda estava no container quando a notícia foi divulgada. Naturalmente todos se sentem enganados. Não há bom senso, como alterar uma modalidade antes mesmo de ver como funcionará em Londres 2012?

Eu velejo de Kitesurfe, é muito legal, mas ainda existem poucos eventos e conhecimento para guindar esta modalidade à condição olímpica, além de no caso a Baia da Guanabara não ser um local apropriado para a prática. Em minha opinião, jamais deveria haver modificações desta envergadura que valessem para menos do que 10 anos, os países não têm tempo nem recursos para acompanhar estas modificações.

Fica a pergunta: que interesses o Conselho da ISAF atende? Certamente não é o dos velejadores. É Bizarro!

Segue abaixo a lista do que esta valendo para o RIO 2016:
Men's Board and/or Kiteboard - evaluation
Women's Board and/or Kiteboard - evaluation
Men's One Person Dinghy - Laser
Women's One Person Dinghy - Laser Radial
Men's 2nd One Person Dinghy - Finn
Men's Skiff - 49er
Women's Skiff - Evaluation
Men's Two Person Dinghy - 470
Women's Two Person Dinghy - 470
Mixed Two Person Multihull - Evaluation

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Nelson Ilha é velejador, árbitro olímpico e juiz internacional da ISAF.