Sem barulho, Souza Ramos volta à Vela nacional

Por Antonio Alonso - Blog das Águas

Sem fazer alarde, Eduardo Souza Ramos  encerrou um jejum em competições oficiais no Brasil e comandou o veleiro Phoenix Little em uma conquista de pódio no Circuito Oceânico de Santa Catarina, que terminou nesta terça-feira. A última participação do atleta, que foi porta-bandeira do Brasil nas Olimpíadas de 1984 e é o maior vencedor da história da Semana de Ilhabela havia acontecido em 2011, justamente em Ilhabela. Esta foi também a estreia de Souza Ramos na classe C30. O foco do comandante, no entanto, é o circuito mundial de TP52 deste ano, em águas europeias. 

Disseram que ele não vinha... olha ele aí!

Por Tarcísio Mattos – Assessoria da Classe

Fotos Gabriel Heusi (Assessoria ICSC)

O Circuito Oceânico da Ilha de Santa Catarina, realizado entre o último sábado, dia 8, e esta terça-feira, dia 11, em Florianópolis, consolida a Classe C30 como o grande acerto da vela oceânica desportiva brasileira. Dos 27 barcos inscritos, nove eram os “puros-sangues” Carabelli 30, e foram as disputas acirradas na raia entre estes barcos que monopolizaram as conversas entre os velejadores de todas as classes presentes na competição. 

Além do espetáculo durante as regatas, a Classe foi brindada com o retorno para as disputas do experiente e veterano velejador Eduardo Souza Ramos, um dos maiores incentivadores do esporte no país que há um ano e meio havia anunciado sua retirada das linhas de largada.

Souza Ramos comandou em Florianópolis o + Realizado, barco de Ilhabela que recebeu o nome de Phoenix Little na ficha de inscrição, uma referência à extensa linhagem de barcos de sua propriedade que levavam o nome Phoenix. Sua tripulação contou com muitos dos tripulantes que há anos o acompanhavam bordo de seus veleiros, entre eles André Fonseca, o Bochecha, profundo conhecedor do barco e das raias da Ilha de Santa Catarina.

O vencedor do Circuito na Classe foi o veleiro Katana, do comandante Fábio Fillipon, que interrompeu a invencibilidade do Loyal, de Marcelo Massa, o bicho papão que havia vencido todas as competições em que participou desde o seu lançamento na água, em 2011.

“Ganhamos na largada”, diz o comandante catarinense que entrou na última regata com sete pontos perdidos. “Perdemos na largada”, admite o trimmer do Loyal, Beto Paradeda, que entrou na raia com dois pontos de vantagem sobre o campeão.

Todas as seis regatas do Circuito foram disputadas sob ventos Nordeste de média a forte intensidade, água limpa, sol forte e céu azul. A briga entre os três primeiros colocados na competição começou já no primeiro dia de provas. Após as 35 milhas e quase quatro horas da regata longa, que teve como marcas de percurso as ilhas do Arvoredo, Mata-Fome e do Francês, nas costas Norte e Leste da Ilha de Santa Catarina, o Katana livrou apenas 32 segundos de vantagem sobre o Loyal, que por sua vez, chegou somente 35 segundos na frente do Phoenix Little.

A série de cinco regatas barla-sota começou no domingo com a realização de duas provas, ambas vencidas pelo Loyal. O Katana largou escapado na primeira e terminou a segunda em terceiro lugar.  Phoenix Little fez um segundo e um quinto e, correndo por fora, Caballo Loco, de Mauro Dottori, ficou em segundo e terceiro nas duas regatas técnicas realizadas sob ventos acima dos 15 nós.

Barracuda fez dois quartos, Caiçara/Porche ficou com um quinto e um sétimo lugares e a tripulação do Zeus Tean, de Inácio Vandressen, ainda se adaptando com as regulagens ideais das velas recebidas na véspera da competição, ficou em sexto nas duas regatas. Kaikais e Corta Vento fecharam as raias do dia se alternando nas duas últimas posições.

Os resultados das duas regatas de segunda-feira, disputadas sob ventos soprando entre 8 e 12 nós, fizeram com o que o Loyal entrasse na última regata da séria, terça-feira, com dois pontos de vantagem sobre o Katana e cinco sobre Phoenix Little.

Tripulantes do Katana comemoram título na C30

O vento esperado para o meio dia, horário definido para a largada, chegou depois da uma e meia da tarde. A espera dos velejadores foi sob temperaturas acima de 35 graus. Na véspera, enquanto Marcelo Massa era cumprimentado por mais uma eminente vitória, Fábio Fillippon fazia questão de dizer que ainda não havia perdido.

O jogo de marcação do Loyal sobre o katana começou bem antes da largada, uma verdadeira luta de “gato e rato” que chamou a atenção de Ricardo Navarro, presidente da Comissão de Regatas do Circuito e oficial de regatas da Isaf com algumas olimpíadas no currículo. “É impressionante a evolução técnica dos velejadores da Classe C30. Foram seis regatas, nenhum protesto e apenas uma largada escapada. A pré-largada é um espetáculo como os vistos nas mais importantes regatas do mundo. Os barcos velejam juntos, trocam de posição diversas vezes durante uma prova. A menor mudança de vento é sentida pelos velejadores e corrigida. Qualquer erro custa caro. Eu vejo que o C30 pode vir a ser o futuro da vela oceânica no Brasil, um barco leve, moderno e muito rápido”.

“Nossa intenção era ficar colado a barlavento do Katana e não permitir que ele virasse para a direita, mas eles foram muito rápidos na largada e isto nos custou o campeonato” admite Berto Paradeda, trimmer do Loyal. “Eles nos empurraram para a boia, forçamos uma orça em cima da linha e conseguimos colocar o barco deles na nossa linha de vento, obrigando-os a uma cambada. Foi lindo. Fizemos toda a perna pela esquerda e o vento rondou a nosso favor”, comemora Fillippon.

A Flotilha se dividiu, com cinco barcos no bordo da esquerda e quatro à direita da raia. Mas a corrida do Loyal atrás do prejuízo inicial lhe custou mais duas posições e fez a primeira boia também atrás do Zeus, que melhorou o acerto das velas e escolheu o lado esquerdo e Phoenix Little, que sem marcação optou pela velocidade do outro lado da raia.

As cinco pernas seguintes foram nervosas. A tripulação de Eduardo Souza Ramos ultrapassou o barco de Inácio Vandressen na quarta perna, Marcelo Massa levou seu barco para bordos de sotavento bastante orçados em busca de velocidade e Katana, desta vez pelo meio da raia, defendeu a posição com as escotas nos dentes.

Katana cruzou a linha 40 segundos à frente de Phoenix Little, com Zeus Tean, Loyal e Barracuda a menos de 15 segundos de sua popa. Caballo Loco, Caiçara Porche e Corta Vento chegaram no minuto seguinte e Kaikais, sempre envolto com problemas do balão, precisou de mais quatro minutos para terminar a sua participação no Circuito.

Com oito pontos perdido cada um e empatados em números de vitórias, segundas e terceiras posições, o campeonato foi decidido a favor do Katana pelo fato de ter vencido a ultima regata do campeonato.

Além da classe C30, o circuito foi também o Campeonato Brasileiro de BRA RGS, que contou nove barcos na raia e terminou com a vitória do veleiro Bruxo, de Luiz Carlos Shaefer. A classe ORC teve sete inscritos e a vitória de Angela Star. 

Xamego e Desafio 2 venceram todas as regatas das classes Bico de Proa A (dois inscritos) e Bico de Proa B ( quatro inscritos) e levaram, respectivamente, os títulos em disputa.

Novo presidente da Classe

Após as regatas de domingo, dia 9, os comandantes de C30 realizaram a reunião anual da Classe e elegeram Mauro Dottori como seu presidente em substituição a Marcello Massa. Fábio Filippon assumiu a vice-presidência e André Fonseca foi mantido como Diretor Técnico. O campeonato brasileiro da Classe foi confirmado para outubro, em Ilhabela.

“Nossa Classe está consolidada, temos nove barcos velejando e uma regra consistente que garante igualdade e isenção. Agora é levar adiante o trabalho já foi feito até aqui e tentar seu crescimento quantitativo, pois a qualidade não para de crescer”, orgulha-se o presidente eleito”.

1º Katana/Energia –8pp

2º Loyal –8pp

3º Phoenix Little –12 pp

4º Caballo Loco – 20pp

5º Zeus Team – 22pp

6º Barracuda –  24pp

7º Caiçara-Porsche – 32pp

8º Corta Vento – 38pp

9º Kaikias – 42pp