CAMINHO PARA A SUPERAÇÃO, por André Streppel "Bizú"

Acumulando títulos na carreira, o atleta do VDS André Streppel, o "Bizú", escreveu na última semana para o blog da plataforma de crowdfunding Alster. Em sua declaração, o velejador conta sobre sua experiência durante a trajetória na Vela e seus aprendizados, tanto no esporte, quanto na vida pessoal. Confira o relato na íntegra: 

 

CAMINHO PARA A SUPERAÇÃO

"Quando estamos competindo, nosso foco é tanto na busca pelo resultado que nos damos conta do aprendizado apenas algum tempo depois.

Embora tenha na prateleira troféus de campeão brasileiro, sul-americano, vice-campeão mundial entre outros, o fato que é que acumulo muito mais derrotas do que vitórias. Acredito que isso me fortalece, assim como outros atletas. A superação traz visibilidade, e as pessoas passam a te conhecer pelas suas vitórias, mas grande parte do aprendizado vem das frustrações, pois elas são estruturantes. Por isso, nunca acreditei que “o importante é competir”, e sim que o importante é fazer o teu melhor, seja para te superar ou para te frustrar. Ninguém evolui sendo mediano consigo mesmo.

 Atleta que não se dedica ao máximo, nada leva consigo além de um lapso de boa lembrança. Na minha concepção, o que te leva para outro patamar como ser humano e esportista é dedicar o seu melhor constantemente. É fisicamente cansativo, emocionalmente desgastante, exige disciplina e dedicação. Sem frustração não há superação. Trago aqui três situações que mostram a relação entre frustração e superação na minha experiência como velejador.

  •  No campeonato mundial de laser (Brasil – 2005), a regata que eu tive o pior resultado foi a mais importante do campeonato. Foi uma regata de plena recuperação, que me trouxe a confiança necessária para tomar decisões importantes no resto da competição, e entrar para o top 10 do mundo de classe olímpica mais disputada na vela (superação). Um mês antes, tive um resultado pífio no campeonato europeu no momento em que estava chegando ao ápice da preparação para este mundial (frustração).

 

  • Quando conquistei o vice-campeonato mundial de laser radial (Espanha 2001), vinha de um mundial no ano anterior (Turquia 2000), que talvez tenha sido a minha maior frustração no esporte. Ter tempo dedicado ao treino, toda a estrutura necessária para competir e uma experiência que já justificava um ótimo resultado que não aconteceu (frustração). A expectativa por “chegar chegando” foi de um tamanho que eu não estava pronto para carregar. No ano seguinte, o vice no mundial veio naturalmente, pois pela frustração eu já tinha passado.

 

  • Ainda criança, certa vez, um colega desandou a rir porque eu comecei a chorar durante o treino por não estar tendo o desempenho que gostaria (frustração – potencializada por bullying. kkk). Um mês depois, tive o melhor resultado da flotilha e conquistei uma vaga na equipe brasileira e para o meu primeiro campeonato internacional (superação).

 

Todas as vezes que atuei como treinador busquei passar aos meus alunos a importância de cada um buscar o seu melhor. Tanto faz se você será vencedor ou vencido, contanto que te supere ou que te frustre. Apenas esses dois sentimentos vão te fazer um atleta melhor. O que há em comum no choro de superação e no choro de frustração é que ambos não te deixam ser mediano.

A sua melhor versão pode não superar a todos, mas vai te levar mais longe do que imagina."