Memória Minuano: O primeiro barco-escola do Veleiros do Sul

A série Memória Minuano de hoje relembra o primeiro barco-escola do Veleiros do Sul, em um texto de Lázló Böhm, ex-comodoro do Clube, para a Revista Minuano de 2006, edição 107. 

“A vela era um esporte novo na cidade e poucos eram os associados que sabiam velejar. Então foi decidido ministrar um Curso Prático de Manejo de Vela, que seria realizado aos sábados à tarde e aos domingos pela manhã, com duração de quatro meses. Em agosto de 1935 foi programado o Curso de Navegação e Pilotagem. Achylles Rocha, conhecido como "velho lobo do mar", proprietário do barco Aymoré, quando tomou conhecimento do curso, num gesto simpático, colocou a embarcação à disposição do Veleiros do Sul para que fosse utilizada como barco-escola. 

Com o consentimento do senhor Rocha, o nome do barco foi mudado para Commandante Gonçalves, em homenagem ao Capitão do Porto de Porto Alegre. O barco media 17m de comprimento, 3,5m de boca e deslocava 18 toneladas. Possuía dois mastros e a área vélica de 220m². Abertas as inscrições para o curso, foi grande o número de interessados. No dia 27 de agosto de 1935, zarpou o Comandante Gonçalves do porto do Veleiros do Sul, com destino à Vila do Itapuã, em sua primeira viagem de instrução. Além dos tripulantes e alunos, ia a bordo o próprio Capitão do Porto.

Foi um fato memorável e noticiado nos jornais da Cidade. Muitas embarcações foram até a sede do Clube para comboiar o barco-escola. O Comandante Gonçalves passou festivamente pelo Cais do Porto, saudado por apitos e bandeiras, sendo acompanhado, pelas embarcações, até a Ponta da Cadeia. O Correio do Povo publicou extensa matéria com fotografias do evento.

A viagem foi tranqüila. O barco chegou a Itapuã de madrugada, a tempo de conduzir a imagem de Nossa Senhora dos Navegantes na procissão que se realizaria no dia seguinte. Bromberg relatava: "Aconteceu um fato inusitado: logo que o barco-escola atracou, o padre subiu a bordo para uma inspeção. Levantou a tábua de escotilha e um raio de sol caiu diretamente no Roberto Funk, que dormia profundamente. Aquele tipo vermelho, embrulhado num cobertor cor-de rosa... foi um choque! Mas o pior veio depois: a turma lá embaixo começou a acordar e, de repente, em meio a um silêncio momentâneo, ouviu-se uma voz gritando: Ainda tem cerveja no navio?".”

*Texto de László Böhm, de 2004


O Commandante Gonçalves fundeado na Vila de Itapuã


Alunos do "Curso Prático de Manejo de Vela" reunidos no convés do barco.