Memória Minuano: Translado de Punta del Este a Rio Grande

Na Memória Minuano de hoje, série que relembra notícias e relatos históricos do mundo náutico, recordamos a edição de março de 2006 da revista O Minuano, do Veleiros do Sul. A seguir, confira o texto de Klaus Bohne sobre o translado de Punta del Este a Rio Grande, a bordo do Silver Surfer 2, primeiro barco brasileiro a correr o Circuito Atlântico Sur - Rolex Cup, no ano de 2005. 

“Depois de participar do Circuito Atlântico Sur - Rolex Cup em Punta del Este, que foi um campeonato muito bom e divertido, era hora de fazer o caminho de volta com o Silver Surfer 2. Saímos no domingo, dia 24 de janeiro de 2005, da marina às 10 horas da manhã com um belo sol e um nordeste na cara. A tripulação era Marcos Funke, Edmundo e eu (Klaus). As previsões do tempo indicavam vento sul de boa intensidade para a segunda-feira. Por volta das 17h30min parou o nordeste e rondou para o sul aos poucos. Às 19 horas já estávamos com 20 nós pela popa. Rizamos a vela grande e subimos a G3 para enfrentarmos a noite.

A ondulação cresceu e o Silver Surfer 2 começou a surfar. Descemos uma onda de bom tamanho, atingindo 13 nós de velocidade. Descemos outra e outra. O barco começou a ficar muito instável nos "jacarés", exigindo atenção máxima da tripulação para não atravessar no meio da cava.

A brincadeira estava perdendo um pouco da graça na medida que o tempo passava e o vento aumentava pela popa, onde algumas ondas começaram a quebrar na crista, e empurrando o barco para mais um "drop" radical. Resolvi tirar a G3 e subir o tormentim, além de rizar a grande em mais uma forra. O barco continuava muito instável e corcoveante.

Me lembrei que tinha uma âncora de mar daquelas que parecem um balde sem fundo e de tecido bem resistente. Amarrei na escota de balão que não estava em uso e joguei pela popa. Foi um alívio! O barco parou de querer descer em todas as ondas e navegava mais equilibrado.

A âncora fazia muita pressão no cabo e este rompeu. Lá se foi a âncora que eu pedira emprestado ao Ronaldo Ruschel e não pretendia usá-la. Lembrei-me de jogar o cabo da âncora Danforth, amarrando num lado do cunho da popa fazendo uma curva e voltando até outro cunho de popa. Funcionou perfeitamente.

Amanheceu e nos aproximamos dos molhes de Rio Grande, que com aquele mar de ressaca estava difícil de ver onde estava. Ao chegar mais perto, vimos que a ondulação batia nos molhes do lado sul e provocava uma verdadeira pororoca no canal, somado a maré vazante. O quadro era preocupante ainda mais depois de uma noite sem pregar o olho.

Resolvemos ligar o motor e acelerar até quase os 3.000 rpm. Entramos mais próximos aos molhes do sul, pois teríamos espaço caso a pororoca nos jogasse para os molhes do norte. E conseguimos sem maiores sustos. Cem metros adiante e as águas estavam calmas. Ao atracarmos no Iate Clube de Rio Grande, engatei a ré e perdemos o hélice, só para fechar a jornada. Na outra semana, voltamos a Porto Alegre com um hélice emprestada.”

Por Klaus Bohne