Conheça a história do Grupo de Cruzeiristas do Veleiros do Sul!

Relembre como surgiu um dos mais tradicionais grupos do clube através das palavras de Lásló Böhm.

 

Confraternização, amizades e muitas histórias compartilhadas são algumas das palavras que destacam a trajetória dos Cruzeiristas do Veleiros do Sul. 

O grupo é um dos mais tradicionais do VDS, mantendo até os dias de hoje os encontros no clube com um jantar especial todo mês que reúne amigos e velejadores em um clima de alegria e descontração. 

Mas afinal, como surgiu o grupo? Para responder essa pergunta, relembramos o texto especial escrito pelo ex-Comodoro Lásló Böhm, que faz parte do acervo histórico do clube e conta o início da história dos Cruzeiristas do Veleiros do Sul. 

Confira! 

No começo do século XX surgiram os primeiros “veleiros avulsos”, os quais nos finais de semana navegavam em torno das ilhas do Delta do Rio Jacuí, e reuniam-se às quarta-feiras, no bar Liliput, no centro de Porto Alegre, para “assuntar” sobre coisas de barco à vela, regadas a chope. 

Cedo, em busca de novos horizontes, transpuseram a “temível” ponta da Cadeia em busca das águas do rio (modernamente Lago) Guaíba. A conquista seguinte foi o estreito junto ao farol de Itapuã para singrar as águas da Lagoa dos Patos. Finalmente passaram desafiar o Oceano Atlântico. Estes mesmos “marinheiros” em 13 de dezembro de 1934 fundaram o Veleiros do Sul, que até o ano de 1977 foi o único clube náutico, em Porto Alegre, capaz de abrigar com segurança barcos de cruzeiro. 

Depois de grandes navegadas pela Lagoa dos Patos, depois das regatas da Copa Brisa para a classe Guanabara em 1945; depois de o barco Orion, de Egon Barth, ter navegado em águas uruguaias em 1948; e depois da disputa de duas regatas para a cidade do Rio Grande em 1954 e 1956, amadureceu a idéia da institucionalização do Grupo de Cruzeiristas, congregando os comandantes, tripulantes e barcos de cruzeiro/regata. 

No mês de junho de 1956 foi fundado o Grupo de Cruzeiristas, quando foi proclamado o seguinte manifesto constante na primeira ata: 

“Um grupo de desportistas do Veleiros do Sul, desejosos de incentivar o seu esporte predileto, o de velejar em longo curso, cogita de reunir todos os velejadores de cruzeiro em uma organização autônoma, porém enquadrada na vida social do Veleiros do Sul, propondo-se a realizar o seguinte programa em atividade espontânea:

  1. Cultivo da tradição marinheira e costumes marinheiros tradicionais;
  2. Organizar cruzeiros pela e encontros em cruzeiros na Lagoa;
  3. Regatas de longo curso;
  4. Intercâmbio de experiências pessoais e de novidades de interesse geral;
  5. Cursos de instrução de marinharia e assuntos correlatos;
  6. Instrução para elementos novos ou jovens no esporte;
  7. Representar os interesses dos cruzeiristas perante os orgãos diretivos do Veleiros do Sul;
  8. Cooperar nos trabalhos de projeto e construção da nova sede no setor específico que diz respeito aos cruzeiristas;
  9. Cultivar ligação constantes para com as autoridades navais, visando uma cooperação em tudo que se refere à navegação;
  10. Realizar reuniões sociais internas do grupo, sem que se verifique qualquer interferência na vida social do Clube;
  11. Intensificar a freqüência da sede em benefício de um impulso geral da vida interna do Veleiros do Sul.

Por um escrúpulo dos elementos fundadores que não conseguiram isentar-se do complexo de organização que os dias modernos impõem a qualquer congregação, exigindo-lhe dirigentes ou responsáveis, dois dos mesmos tiveram a infelicidade de serem considerados pelos demais algo extra. São eles: Helge Mondt – a mãe da idéia, e Erwin Bier destacado o primeiro Comandante da tribo.” 

Inicialmente os Cruzeiristas tinham “pai” e “mãe” conforme consta na citada ata, mas com o tempo a função de “Comandante da tribo” passou a não ser preenchida e coube à “mãe” representar o grupo, presidir as reuniões e elaborar as atas. O nome é por conta de serem sucessores do Helge Mondt da “mãe da idéia”. 

O grupo se reunia em jantares na primeira segunda-feira de cada mês, os quais, a partir da segunda metade da década de 80, passaram para a primeira quarta-feira em homenagem as tradicionais reuniões semanais do Veleiros do Sul os quais aos poucos foram se esvaziando. 

Nestes jantares são admitidos visitantes os quais são sempre apresentados aos companheiros. A palavra é dada a quem dela quiser fazer uso. Normalmente são relatadas navegadas e atividades esportivas recentes e os porvir. Os aniversariantes, os proprietários de novos barcos, os envolvidos em incidentes ou acidentes, etc. são “convidados” para pagarem uma rodada de chope ou “nikolachka” e são saudados com o tríplice “hipp, hipp, hurra” sob o comando do “Ministro do Chope”. Antes do encerramento das atividades oficias é aprovado o menu e “democraticamente” designado o “cozinheiro” para a próxima janta. A noitada, muitas vezes, prolonga-se informalmente em um “bate-papo marinheiro”. 

Uma vez ao ano o Grupo de Cruzeiristas promovem uma festa “avec”, isto é, com a presença das esposas, noivas, filhos, entre outros. Nesta oportunidade perante a “Corte de Netuno”são batizados os novos membros da confraria. São candidatos a Cruzeiristas todos os navegadores que antes de mais nada demonstraram ser bons companheiros, a critério do grupo. Atualmente são aceitas “marinheiras” já que velejar não é mais privilégio do “sexo forte”. 

No início os Cruzeiristas mostraram para o que vieram. Em 1957 promoveram a regata de Porto Alegre – bóia São Simão na Lagoa dos Patos e o “descobrimento” da praia dos “Almirantes” na região de Itapuã, com “missa” e tudo mais. Promoveram as regatas, pela Lagoa dos Patos, para Rio Grande, Pelotas, São Lourenço do Sul e Tapes. Organizaram as três regatas Montevidéu – Porto Alegre, com parada na cidade do Rio Grande, para prosseguir na Lagoa dos Patos depois de percorrer o canal da Feitoria. 

A partir da década de 70, aos poucos o Veleiros do Sul deixou de ser único abrigo para os barcos de cruzeiro/regata no Rio Grande do Sul. A importação de barcos de fibra de vidro e a indústria naval nacional ensejou a aquisição de novas unidades, permitindo a difusão do esporte. A Associação Brasileira de Vela de Oceano (ABVO) por sua vez, fez a sua entrada no Rio Grande do Sul, pela “porta” aberta dos Cruzeiristas, mas aos poucos começou atuar em faixa própria, assumindo o comando. 

O crescente interesse, tanto dos portenhos como dos gaúchos, pelas atividades esportivas desenvolvidas em Florianópolis (SC) e em Ilhabela (SP), as regatas no Lagoa dos Patos perderam as características internacionais. A morte prematura do Erwin Bier e de Helge Mondt em 1968 e a falta de uma política de renovação dos quadros dos Cruzeiristas fez com que escapasse a condução do esporte da vela de oceano das suas mãos. 

Assim, hoje em dia, o Grupo de Cruzeiristas congrega os velejadores veteranos, alguns ainda em atividade, os quais durante os jantares da primeira quarta-feira de cada mês procuram cultivar as tradições do Veleiros do Sul.