Memória Minuano: No mar das lembranças
Nesta edição da Memória Minuano, vamos reviver umas das grandes conquistas da vela do Veleiros do Sul: o título do Campeonato Mundial de Snipe conquistado pela dupla Bóris Ostergren e Ernesto Neugebauer em 1977, na Dinamarca.
O texto intitulado No mar das lembranças relembra alguns dos detalhes do feito e está registrado na edição nº 94 da revista, publicada nos meses de agosto e setembro de 1997. Confira!
"Viente años no es nada", diz a letra de um tango de Gardel. Para Boris Ostergren há um fundo de verdade nesta frase. Em agosto de 1977, enquanto as plateias se admiravam com o filme Guerra nas Estrelas e nas discotecas os jovens imitavam o rebolativo John Travolta, Boris e seu proeiro, Ernesto Ari Neugebauer, traziam para o Veleiros do Sul o título de campeão mundial de snipe. Uma conquista que depois de vinte anos ainda está presente em sua memória.
Boris e Ernesto chegaram à sede do Skovshoved Sejiklub, em Copenhague, na Dinamarca, para disputar do 28º Campeonato Mundial de Snipe, na condição de dois anônimos velejadores. Mesmo ostentando o título de campeões brasileiros, país que já havia ganho quatro vezes o mundial com Axel Schmidt. A estrela da classe snipe era então o espanhol Felix Gancedo que buscava o seu tricampeonato. Mas também havia o favoritismo dos dinamarqueses, que tinham tradição na snipe. No entanto, bastou a vitória na primeira regata para a dupla gaúcha navegar do anonimato à notoriedade.
A tripulação do Veleiros ganhou o Mundial vencendo apenas duas das sete regatas realizadas na raia do mar Báltico. Uma virada do barco na segunda prova, esfriou as pretensões de Boris e Ernesto no campeonato. "Nós capotamos e ficamos tentando resgatar o nosso material, salva-vidas e pau de spinnaker, e terminamos em 34 lugar. Com isso, já tínhamos de considerar o descarte. Nossa preocupação era não errar mais", conta Boris.
A intensidade do vento variou de médio a forte durante a competição. A dupla sentiu que navegava bem nos ventos fortes, uma condição que favorecia os tripulantes de outros países, em especial os nórdicos. Todo o campeonato, Boris e Ernesto mantiveram-se na frente, mas com pequena diferença que não permitia descuidar. Eles eram ameaçados pelo norte-americano T. Nute e por outros gaúchos, Marco Aurélio Paradeda/Luís Pejnovic, segundo e terceiros colocados, respectivamente no Mundial.
Como a sede era muito afastada do local de competição, Boris diz que passaram quase todo campeonato sem saber ao certo a classificação. A única certeza era o descarte. Mas foi no último dia que a tensão aumentou, como lembra Boris. "Havia um vento fraco e irregular e sabíamos que se a sétima regata, que teve várias largadas anuladas por causa das rondadas, não saísse perderíamos o campeonato. Depois de longa espera entrou um vento constante seguimos para o lado norte da raia, abrimos boa diferença, mas com o americano sempre tentando nos alcançar. No último contravento, os dinamarqueses nos passaram e ganharam a regata, porém, nós ficamos com o título.
Após o campeonato, Boris e Ernesto se tornaram figuras conhecidas nas ruas de Copenhague, mas só conseguiram festejar mesmo a vitória quando chegaram em Porto Alegre, onde desfilaram em carro aberto e foram recebidos com festa no clube.
Revista O Minuano, nº 94 – Agosto e Setembro de 1997