Sócia do Veleiros do Sul, violoncelista Marjana Rutkowski recebe o título de cidadã emérita de Porto Alegre

Em entrevista especial, musicista fala sobre a felicidade em receber a honraria, a relação com a música e sua história no clube.

 Foto: Cristine Rochol

Associada do Veleiros do Sul, a violoncelista Marjana Rutkowski foi agraciada com o título de cidadã emérita da cidade de Porto Alegre. A honraria foi concedida no dia 10 de janeiro e a cerimônia será realizada no dia 29 de março, no mês que marca as comemorações do aniversário da capital.

“Esse projeto iniciou no ano passado, com a sensibilidade da vereadora Lourdes Sprenger, que teve os olhos para enxergar o meu trabalho e me escolheu como a candidata para a mais alta honraria que a nossa cidade oferece”, conta Marjana, que completa falando sobre a alegria de receber a condecoração: Eu sinto essa homenagem da nossa cidade como uma validação, uma legitimação e reconhecimento de um trabalho silencioso em diversas frentes na área da educação e da cultura ao longo dos anos.

O título marca mais um reconhecimento na carreira da musicista gaúcha que, em 2021, foi a primeira brasileira eleita para o Conselho Diretor Associated Chamber Music Players – ACMP (Associação dos Músicos de Câmara). A entidade, que fica na cidade de Nova York, nos Estados Unidos, é uma organização sem fins lucrativos que tem a missão de fomentar a música de câmara em todo o mundo.

Foto: Pedro Castello

Confira a entrevista especial com a violoncelista Marjana Rutkowski!

- Desde quando você é sócia do VDS? Qual foi a motivação?

Frequento o clube desde criança! Sou sobrinha do saudoso Jorge Welp (Joca) e Rejane Welp; velejava no Chopp-Chopp em família. Guardo memórias muito queridas deste tempo! Até hoje o afeto pelo tio Jorge está vinculado ao Veleiros. Tanto é que, na maior parte dos 20 anos em que morei nas Berkshires e em Manhattan, não consegui me afastar do meu título do clube, apesar de frequentá-lo apenas alguns dias por ano. 

- Qual a relação com este meio náutico?

Uma coisa é certa: não é nada competitiva - neste quesito, basta a atividade de performance, que, como brasileira me apresentando no exterior, vivencio cotidianamente. Aprecio muito, quando possível e convidada, velejar com sócios, como foi da última vez com a família Ilha em um pôr-do-sol perfeito com muita ventania, foi maravilhoso! Tive a alegria de estar a bordo com o inesquecível patriarca Henrique. Prefiro então cultivar as raízes afetivas da infância e da juventude, e agradeço aos amigos Flavia e Dudi por me trazerem de volta ao Veleiros.

- Para você, o que representa receber este título de cidadã emérita de Porto Alegre?

Eu sinto essa homenagem da nossa cidade como uma validação, uma legitimação e reconhecimento de um trabalho silencioso em diversas frentes na área da educação e da cultura ao longo dos anos. Eu sinto também como um ato afetivo de segmentos da sociedade porto-alegrense me reconhecendo, o que muito me alegra.

- Em 2021 você foi a primeira brasileira eleita para o Conselho Diretor da Associated Chambers Music Player. O que representa esse reconhecimento e a qual a importância de fomentar a música?

Este foi, novamente, um reconhecimento por mais de década de trabalho de formiguinha, silencioso, dentro da instituição nova-iorquina, uma entidade sem fins lucrativos, onde eu já era embaixadora do Brasil perante o International Advisory Council, eu e meus colegas da Europa e de outros países, com exceção dos países que compõem a America do Norte. Em 2021, tive a honra de ser eleita pelo conselho diretor em Nova York, sede da instituição, e quem me indicou foi o meu chair do comitê europeu e de outros países, o Dr. Henri van den Hombergh.

- Como iniciou essa relação com a organização?

A partir de 2009 eu me tornei embaixadora do Brasil perante a ACMP, só que desde aquela época muita coisa mudou, então fiquei ‘martelando’ nos mesmos aspectos ao longo do tempo até que entramos em ressonância com algumas pessoas chaves na instituição e então, estatutos foram reformulados e a instituição entendeu que tipo de papel ela teria na América do Sul, no Brasil, diferentemente do ela já vinha atuando em relação a Europa e nos Estados Unidos, a compreensão dessa diferença, dessa idiossincrasia foi fundamental na reformulação dos estatutos de modo que o Brasil passou a se tornar um possível recebedor de benefícios. Desde que isso aconteceu, que foi em no início de 2020, em plena pandemia, nós já conseguimos captar recursos para eventos que, se não fosse este apoio vindo de fora, seria impossível de realizar encontros, festivais, tanto aqui como na Itália. Isso me deixa muito feliz, pois sou uma peça nesse tabuleiro que permitiu essa realidade ser possível.

Biografia de Marjana Rutkowski

A violoncelista gaúcha Marjana Rutkowski possui consolidada carreira com apresentações na Europa, Canadá, Brasil, Israel e Estados Unidos. É presença pontual em festivais e concertos na Universidade de Oxford (GBR), LyricaFest of Boston, Kammermusik e ArtsAhimsa (USA), Ischia Festival (IT), e possui convites para Portugal, Itália, República Tcheca e Montenegro.

É embaixadora do Brasil no International Advisory Council perante a Associação de Música de Câmara, entidade sediada em Nova York cuja missão é fomentar projetos camerísticos em muitos países, incluindo-se o Brasil: recentemente apoiamos dois festivais no Brasil, dois workshops na Itália cujo diretor é gaúcho, e um Home Coaching em Florianópolis (https://acmp.net/grants).

Sua formação musical e acadêmica iniciou em Porto Alegre com Jean-Jacques Pagnot e Dennis Parker. Entrou para a OSPA aos 17 anos, ocupou a 1a estante em festivais internacionais, destacando-se o de Brasília, ao lado de Guerra Vicente, e o de Campos do Jordão, como chefe de naipe sob a batuta de Eleazar de Carvalho. Conquistou o primeiro lugar no Iº Concurso Nacional de Música de Câmara Santa Marcelina em São Paulo, foi vencedora no IVº Concurso Nacional Jovens Solistas em Porto Alegre, e foi violoncelista da trilha premiada de Eu vi o Rinoceronte, de Eugène Ionesco, em Brasília.

Possui o Mestrado em Música pela Hartt School, University of Hartford, sob os auspícios da CAPES, onde atuou como principal cello do Collegium Musicum, grupo especializado no período barroco.

 Aperfeiçoou-se com Terry King, Fritz Magg, Janos Starker, Emerson String Quartet e Manhattan String Quartet. Contemplada com uma bolsa da Universidade de Yale (USA) em Filosofia Política, foi Principal Cello do Yale Contemporary Players, grupo com ênfase no repertório pós-1945, e também camerista na Paul Hindemith Foundation (Suíça).

Aparições como solista e primeiro violoncelo incluem o Seiji Ozawa Hall em Tanglewood, Saint Thomas Orchestra em New York, Bar Harbor Music Festival e Acadian Chamber Players em Maine. Apresentou o Lost Viola Concerto de J. S. Bach em estréia mundial, atuou em espetáculos da Broadway e foi convidada no TODAY Show da NBC em cadeia nacional nos Estados Unidos.

Apresentou-se para a ex-primeira dama Ruth Cardoso na inauguração da Brazil Foundation em Manhattan, e para a ministra do Supremo Tribunal dos EUA, Ruth Ginsburg, no Salão Nobre da Ordem dos Advogados de Nova York.

Com o Duo Rutkowski-Olivé lançou o CD Y También nos Iremos Riendo en el Camino, gravado em Buenos Aires.  Atuou como solista no ábum duplo do The West Village Chorale gravado ao vivo na acústica de St. Luke in the Fields em Manhattan.

Em parceria com o Dr. André Loss integrou o Duo Rutkowski-Loss, especializado no repertório romântico e também em obras representativas das três Américas (http://duorutkowskiloss.blogspot.com)

Marjana, através da ACMP, apoia e foi faculty member efetiva do Ischia Chamber Music Festival (Itália) que se realiza todos os anos em maio na ilha de Ischia, além de apresentações com seu Vittoria Colonna Trio em Lacco Ameno e Nápoles. (https://ischiachambermusic.org/partners/)

Foi curadora e mentora da Paadhai's Music Maths & More, um projecto educativo pioneiro para crianças tribais no sul da Índia, que se consolida como modelo e será aplicado em outras escolas do país.

Em abril de 2021, por seu ativismo em prol das iniciativas educacionais no Brasil, Marjana foi unanimemente eleita ao Board of Directors da ACMP (EUA), sendo a primeira pessoa não europeia e não norte-americana a pertencer ao seleto conselho diretor na história da entidade. 

Ávida recitalista e divulgadora do repertório brasileiro, sul-americano e contemporâneo, Marjana interpreta diversas obras -  tanto dedicadas a ela como comissionadas - em estreia mundial.  Futuros compromissos incluem recitais, conferências e festivais no Brasil e no exterior - o próximo em Praga, no mês de março, ’ com o renomado Martinu String Quartet.

Como solista convidada, representou a classe artística no curta-metragem “12 Cenas Pandêmicas”, cuja estreia será divulgada em breve.