Ex-Comodoro do Veleiros do Sul, sócio Newton Aerts destaca navegada no Canal do Varadouro em entrevista especial

Travessia contou com percurso de 530 milhas náuticas e foi realizada em 2009.

 

Com o objetivo de compartilhar histórias e velejadas dos associados do Veleiros do Sul, nesta semana a entrevista especial é com o Vice-Presidente do Conselho Deliberativo do Clube, Newton Aerts, que compartilhou a navegada realizada no Canal do Varadouro, em 2009. 

Newton Aerts é sócio desde 1984 e conheceu o VDS através de seu sogro, Lincoln Ganzo de Castro, que estava construindo junto com o marceneiro Marinho Vieira, seu veleiro Nomade, um projeto Pablo Cibert de 30 pés. Desde então, iniciava ali o primeiro contato com o mundo náutico. Em sua trajetória no VDS, o sócio já foi conselheiro, Comodoro e Presidente do Conselho Deliberativo do Clube. 

Sobre a experiência no Canal do Varadouro a bordo do veleiro Molokai, Newton Aerts relembra a navegada de 530 milhas náuticas de percurso, que passou por pontos como Florianópolis, Ilha do Mel, Canal do Varadouro, Cananéia, Capri, Joinville e São Francisco do Sul. A travessia foi apresentada no Jantar dos Cruzeiristas de maio de 2009, e pode ser conferida clicando aqui! 

Confira a entrevista com Newton Aerts, Vice-Presidente do Conselho Deliberativo do VDS

- Desde quando você é sócio do Veleiros do Sul? Como você definiria a sua trajetória no clube e o que o VDS representa para você?
Sou sócio desde 1984, quando comprei o título e passei a fazer parte deste grande Clube. Conheci o Veleiros por meio do meu saudoso sogro, Lincoln Ganzo de Castro, que estava construindo junto com o marceneiro Marinho Vieira, seu veleiro Nomade, um projeto Pablo Cibert de 30 pés. 

- Quais foram seus primeiros contatos com o mundo náutico? Como foram as primeiras velejadas?
Meu primeiro contato com o mundo náutico foi com meu sogro Lincoln Ganzo de Castro que, sozinho, já tinha construído um Sharpie e posteriormente o veleiro de 30 pés, Nomade, que ainda está no Clube. As primeiras navegadas foram em 1978, quando ficou pronto o Nomade. E logo no ano seguinte, fomos a Tapes, São Lourenço, Rio Grande e na sequência uma subida a Florianópolis chegando até Itajaí, ainda sem GPS, somente com eco, bússola, radiogônio, VHF e navegação estimada pelas cartas náuticas. Celular, nem pensar.

Em todo esse período como sócio, Comodoro e Presidente do Conselho, quais foram os momentos mais memoráveis que marcaram para você no clube?
Uma vez Associado, e o Nomade ja navegando, passamos a velejar quase todos os fins de semana, mesmo com vento médio ou forte. Nosso projeto, junto com minha esposa Denise, era adquirirmos um barco próprio, para seguirmos navegando com as filhas que depois vieram, Gabriela e Camila. Mas depois de 25 anos, participando sistematicamente das atividades de vela de cruzeiro/regata, de atividades sociais e também já nos últimos quatro anos como conselheiro, fui convidado a me candidatar e participar da eleição para Comodoro. Em dezembro de 2010 fui eleito Comodoro para o biênio 2011/2012, e juntamente com Ricardo Englert, Eduardo Scheideger Jr, Eduardo Ribas, Pablo Miguel, Idir Paludo e Luis Morandi (Prefeito da Chico), fizemos uma administração voltada para a satisfação do associado e incentivando ainda mais a vela de competição e olímpica. Certamente terminamos nosso mandato de 2 anos com a sensação do dever cumprido e tendo alcançado nossa meta. Na sequência, fui eleito presidente do Conselho Deliberativo, onde permaneci por dois anos e hoje continuo como Vice-Presidente, auxiliando nas grandes decisões sobre a vida do Veleiros do Sul. 

- Sobre a travessia com o veleiro Molokai apresentada em 2009 no Jantar dos Cruzeiristas, como surgiu a ideia de realizar essa navegação?

Em outubro de 2006 compramos o Molokai, um Delta 36. Já em dezembro levamos ele para Angra, e assim fizemos nos dois anos seguintes. Em 2009, revolvemos fazer este novo projeto, de entrar pela Ilha do Mel e conhecer o Canal do Varadouro saindo em Cananéia. Este, sem dúvida, é um trajeto não muito conhecido, e até hoje, sem nenhuma carta náutica fisica ou de GPS. Tivemos na tripulação o Norton Aerts, Marcos Regenin (gaúcho morando em Ponta das Canas) e Lincoln Ganzo de Castro. Aproveito e faço um especial agradecimento ao nosso grande Comandante, Mestre e Amigo, Plínio Fasolo, que com seu excepcional conhecimento, plotou uma carta com coordenadas extremamente exatas e com traking de todo o Canal do Varadouro, sobre uma imagem do Google Maps! Conseguia abrir a imagem/carta com uma antena externa da Garmin conectada ao meu laptop, e seguimos todo o tracking no canal sem nenhum encalhe, o que é muito difícil.

- Quais foram as principais dificuldades encontradas ao longo do trajeto?

A grandes dificuldades para toda a região sempre foi a falta de cartas náuticas. Muitas vezes, não conseguimos abrir a carta feita pelo Plínio, pois o sinal de GPS era muito ruim, mas felizmente quando entramos no Varadouro tudo deu certo.

- E quais foram as principais curiosidades e acontecimentos neste início?

Entrando na baia de Paranagua, pelo Canal da Galheta, contornamos a Ilha do Mel e fomos visitar a Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres. Seguimos para a Ilha das Peças e almoçamos no restaurante da Dona Iná, onde a caipirinha é preparada e deixada na mesa em vidros que usam para a venda de palmito. Neste restaurante tivemos a grande felicidade de encontrar o Comandante Plínio e sua família, no veleiro Feitiço.

Na sequência, navegamos até a cidade de Guaraqueçaba, praticamente uma vila de pescadores muito simpática, localizada bem no fundo da baia de Paranagua, onde conseguimos comprar três caixas de palmito, cada uma com 10 vidros.

É sem dúvida fantástica, a exuberância da vegetação, com morros muito elevados em toda a região, a também uma enorme quantidade de aves, em especial a revoada no fim de tarde na Baía dos Papagaios.

Nossa programação era, no fim de tarde, ancorar e dormir próximo a entrada do Varadouro, mas a falta de conexão do GPS, sem poder abrir no laptop a imagem/carta e a grande variação de maré, fez com que encalhassemos/atolássemos no lodo do mangue, e o Molokai simplesmente ficou em pé e sem nenhuma água na baía toda, inclusive o inflável ficou no seco, ou melhor, no lodo.

A preocupação maior era o entupimento das tomadas de água, inclusive da rabeta do motor, pois estávamos com a quilha toda enterrada no lodo. A visão era surreal, um veleiro em pé, sozinho numa baía extensa totalmente sem água e não podíamos sair do barco, pois enterrávamos até a cintura no lodo.

 - Sobre o canal do Varadouro, quais foram as principais caraterísticas da região e as condições durante a navegação?

O canal do Varadouro é um canal artificial que começou a ser aberto pelos moradores do litoral em 1820. A abertura era uma necessidade das comunidades de Paranaguá (PR) e de Cananéia (SP). Os pescadores que passavam por ali precisavam "varar" a terra com suas canoas, daí o nome "Varadouro".

Em 1950 começaram as obras de iniciativa governamental, dando forma a passagem. O canal foi inaugurado em 1952. Desde sua entrada, no Superagui até Cananéia, tem aproximadamente 35 a 40 MN, e com um trajeto extremamente sinuoso em toda sua extensão, dificultando mais ainda sua navegação, sempre no modo motorada.

No primeiro dia de Varadouro, e com o GPS funcionando, seguimos o tracking do Plínio e a motorada pelo canal foi mais prazeirosa, olhando a paisagem, a fauna e flora, mas sempre de olho no laptop, pois a cada curva o banco mudava de posição. Outro probleminha, por assim dizer, foi a companhia persistente dos borrachudos e mutucas, em especial nesta região com pouco vento, manguezal e muita umidade.

Dormimos a primeira noite no Ariri, uma pequena Comunidade já em São Paulo, tendo percorrido entre 16 a 18 MN. Atracamos em um flutuante de uma padaria, onde fomos recebidos muito bem pelo dono, que nos forneceu energia elétrica para a noite. E, com muita felicidade, fizemos funcionar o ar condicionado de píer, facilitando o repouso noturno.

No dia seguinte, seguimos para Cananéia, sempre seguindo o tracking e navegando numa média de 3 a 4knt, para evitar os encalhes. O restante do percurso levou 7 a 8 horas, chegando as 17:00.

Fomos recebidos pelo gaúcho Marcos Bernauer, dono de um centro náutico, com área de lazer para churrasco e bombas de combustível, mas que infelizmente estavam lacradas. Permanecemos por dois dias em Cananéia, e abastecemos com água, gelo, diesel e compras de supermercado.

A saída para o mar pelo canal de Cananéia foi muito complicada, pois não tinha bóias em todo o canal, somente uma já mar adentro. Tivemos de fazer nosso próprio tracking pela carta e seguir fielmente, confiando na navegação e GPS, mesmo vendo as ondas quebrarem a 50 metros, nas laterais do canal.

Passamos pela Ilha do Bom Abrigo e velejamos até São Francisco do Sul, e depois pela baía de Babitonga, motorando até o Joinvile Iate Clube, onde também fomos muito bem recebidos.

Nos dias seguintes, velejamos até Camboriu, onde após um dilúvio de fim de tarde, dormimos uma noite na marina Tedesco com uma correnteza muito forte no rio Camboriu devido a chuva da tarde. No dia seguinte, pernoitamos no Caixa D’Aço e seguimos de volta a Ponta das Canas, passando pela Armação da Piedade em Governador Celso Ramos.

- Como foi completar as mais de 500 milhas náuticas de navegação?

Navegar aproximadamente 500 MN, sendo um somatório de trajetos feitos em dez dias, com paradas/ancoradas para dormir, apesar das peculiaridades encontradas, é bem diferente de uma travessia de 500mn. São situações diferentes e sem dúvida a navegação interna é bem mais segura, apesar dos bancos, encalhadas e borrachudos. 

- Para você, quais seriam as principais diferenças entre realizar esta travessia nos dias de hoje?

Poderia dizer que mesmo fazendo a navegada pelo Canal do Varadouro até Cananéia nos dias de hoje, não seria muito diferente do que fizemos em 2009, pois as peculiaridades encontradas seguem as mesmas. Ainda não há carta náutica nem sinalização em todo o trajeto, por isso a carta/mapa plotada pelo querido Plínio foi fundamental para nossa passagem pelo Canal do Varadouro.

Abaixo, confira algumas das imagens!