Diário de Bordo: #PartiuAngra

 

A bordo do veleiro Papillon, os associados Vitor Pereira e Ana Mäler relatam a recente velejada rumo a Angra dos Reis, destacando as experiências e desafios enfrentados durante a navegação entre Paraty e Angra. 

Confira! 

Paraty e Angra é para nós, gaúchos, como Gramado e Canela, tão próximos, mas com suas próprias personalidades e características que encantam a todos. 

Partimos de Paraty com destino a Marina Bracuhy, famosa e bastante conhecida no meio náutico. Essa marina abriga grandes barcos como o “Bejoá”, do casal Luciano Huck e Angélica, como também o “Embaixador”, do cantor Gustavo Lima, que nada mais é que o ex Yacht Lady Laura que pertenceu ao rei Roberto Carlos, além de outros que não vale a pena ficar comentando por aqui pois a lista é grande. 

Chegamos na marina após uma bela velejada de 4 horas. Lá nos disponibilizaram uma vaga ótima em uma área que chamam de Rio de Janeiro, pois o outro lado, que é bem mais distante de toda infraestrutura, é chamado de Niterói, como uma referência da Baía da Guanabara e a distância entre a duas cidades. 

Logo de cara, estranhamos muito a postura, o jeito e o tratamento dos Angrenses. 

Apesar da proximidade, eu diria que Paraty está mais para São Paulo e Angra mais para o Rio de Janeiro. 

Até no comércio de rua e nos supermercados o atendimento é um tanto rude e despretensioso, diferentemente do que nos acontecia em Paraty, que está muito mais preparada e acostumada a lidar com os turistas. 

Perrengues a parte, Angra, no que tange a navegação, tem mais lugares e ancoragens com pernoites. É mais arejada e com uma proteção também fantástica das frentes frias graças a Ilha Grande que segura muito bem todo mau tempo que passa pela região. Angra dos Reis tem 365 Ilhas, uma população cerca de 230.000 habitantes e sua colonização se iniciou em 1556. 

Piraquara de Dentro e de Fora, Ilha das Botinas, Ilha dos Porcos que pertence a família Pitangui com direito a pista de pouso para pequenas aeronaves, Ilha da Jipóia com suas baías fantásticas sendo a Praia do Dentista a mais famosa por lá. 

Espalhadas pelas Ilhas e também pela área do continente, existem inúmeras casas fantásticas pertencentes figuras famosas nacionalmente assim como de grandes empresários de sucesso que buscam na região o sossego e segurança que já não existe nas grandes cidades. 

Ilha Grande, que pelo nome fica óbvio que é a maior da região, tem destaque especial com o Sítio Forte, Saco do Céu além da Praia de Lopes Mendes reconhecida com uma das mais belas do mundo. 

Passamos 6 meses nessa região, explorando cada cantinho que estava a nossa disposição. Aproveitamos os passeios e fizemos a volta na Ilha Grande, que foi um dia fantástico com direito a pernoite no lado de fora na famosa praia de Parnaióca. 

No Bracuhy, aproveitamos para fazer as revisões e ir alinhando o barco, pois é sabido que daqui para cima as coisas ficarão mais difíceis e estaremos muito mais por conta própria para soluções em todos os níveis. 

Numa bela manhã, fui pegar algo debaixo do paineiro e descobri uma grande quantidade de água salgada no fundo do casco, que depois de muita investigação descobri que era a tal da bomba de água salgada da pia da cozinha que estava com vazamento e ai é sempre um perrengue conseguir reparos para essas situações. Depois de resolvido o problema não é que me para de funcionar a bomba de água doce do barco? 

A vida a bordo nos obriga diariamente a buscar soluções, sermos mecânicos, eletricistas, hidráulicos e de tudo um pouco para manter a “casa” em ordem. 

Como era uma sexta a noite, lá fui eu com o voltímetro para tentar achar o problema! 

Era um simples relê que tinha queimado e, pela falta de expertise minha em elétrica, fui fazer uma “ponte” para quebrar um galho até comprar outro na cidade no dia seguinte. 

Pois então, a tal “ponte” disparou o sistema, a pressão ficou acima do normal e começou a estourar várias conexões de água do barco. Foi um corre-corre e o que estava ruim, ficou ainda pior... 

Rompeu conexões de água quente e água doce atrás das anteparas que para chegar nelas para refazer as conexões foi um Deus no acuda. 

Temos uma máxima nessas questões do dia a dia a qual vivemos repetindo: - Nunca é fácil! 

Quando dizem que é só tirar o parafuso que sai fácil... já sabemos que não será bem assim. 

Bom, para encurtar, refiz as conexões, remontei o que havia desmontado para chegar nelas e no dia seguinte fui ao centro e comprei 3 relês... e também aprendi a não pensar em fazer mais gambiarras a bordo... 

Estar em marinas é sempre um conforto a mais, pois temos energia, água e se deslocar para passeios e compras fica mais tranquilo, mas também as marinas são sempre mais quentes no verão e, convenhamos, morar a bordo amarrado em uma marina não combina conosco. Por isso, procuramos usar ela como um ponto de respiro, saímos, ficamos o máximo na âncora e a cada semana ou 10 dias a gente faz aquele ‘pit stop’ na marina para lavar o barco e botar as coisas em ordem. 

Ficamos habitues em vários quiosques e restaurantes na região, quase clientes de caderneta e olha que comida boa a preços justos tem bastante e para escolher. O Cantinho da Val era um de nossos preferidos na Enseada da Fazenda, mas também tínhamos nossos dias de Nutella e íamos as compras no Shopping Piratas fazer supermercado no Zona Sul e almoçar no Japa de lá que é ótimo. 

O Shopping Piratas tem para nós um atrativo especial pois eles têm trapiche e podemos “estacionar” o veleiro na porta do Shopping... Uma coisa única que vimos por aqui pois fazer supermercado sem ter que ir de bote ou Uber é para lá de especial. 

No Saco do Céu em Ilha Grande tem o Coqueiro Verde, local muito agradável com pousada, restaurante e poitas para quem tem preguiça de jogar o ferro. 

Tem muita coisa para fazer e lugares para ir em Angra dos Reis, além de boa estrutura de serviços náuticos e mão de obra de boa qualidade quando não se consegue seguir na linha do “Faça você mesmo”. 

Quando na marina, o Frade que fica a poucos quilômetros do Bracuhy era o lugar onde encontrávamos Pet Shop, Mercearia, Cabeleireiro e Barbearia além de uma rua com comercio bastante variado e a bons preços. 

A baía de Ilha Grande que abriga Paraty e Angra dos Reis é sem dúvida o paraíso em nosso pais com suas águas transparentes, sua vegetação exuberante e um clima de dar inveja a qualquer um, entretanto tem uma coisa ali que é sem dúvida bastante cruel que é deixar esse encanto de lugar pela popa para seguir em frente e descobrir outros cantos e recantos desse país imenso que se chama Brasil. 

Até o próximo Diário de Bordo! 

Tchau e Bons Ventos! 

Vitor, Ana e Star
Veleiro Papillon