Memória Minuano - Sharpie: Lembranças de um passado de glória da vela
A nova edição do Memória Minuano resgata as lembranças da classe Sharpie, em matéria especial divulgada na edição nº134 da revista O Minuano, publicada em setembro de 2014.
A publicação conta com a história do Sharpie no mundo e no Brasil, além de destacar as conquistas do Veleiros do Sul da classe. Confira!
Sharpie: Lembranças de um passado de glória da vela
Veleiros do Sul foi o vencedor do primeiro Campeonato Brasileiro da Classe Sharpie, em 1944, com a tripulação formada por Hugo Baumann e Arno Albino Eli.
As primeiras regatas da classe começaram em 1935 em Porto Alegre.
O Sharpie 12m² internacional já foi uma classe de grande prestígio na vela e marcou sua presença como um dos primeiros barcos monotipos do iatismo. O seu criador foi o projetista J. Kroger, vencedor entre 37 inscritos no concurso organizado pela Associação Alemã Yachting o Deutcher Segler Verband em1931. Logo teve rápida aceitação entre outros países como, Inglaterra, Holanda, Austrália e Portugal. Em1933, a classe Sharpie 12m ²foi reconhecida como classe internacional pela Internacional Yate Race Union (IYRU) a federação internacional de vela na época.
No Brasil, a Associação dos Veleiros da classe Sharpie comemorou os seus 80anos de fundação. A Associação foi criada em 4 de agosto na sede do Clube dos Caiçaras. No entanto, a classe Sharpie 12m² internacional surgiu no Brasil um pouco antes. Em 1932 os primeiros barcos foram construídos no late Clube Brasileiro, em Niterói, e em 1935 começam surgir as primeiras flotilhas e regatas na Baía da Guanabara. O Clube dos Caiçaras, na Lagoa Rodrigo de Freitas, ganhou mais adeptos por melhor se adaptar as condições de velejar em águas abrigadas. O barco nacional foi aprovado pela Square 12 Association Class, com algumas modificações, em1944, e foi autorizado a participar de competições internacionais.
O Veleiros do Sul nasceu no mesmo ano da AVCS e foi o precursor da classe no Sul. As experiências adquiridas com as primeiras regatas evidenciaram aos gaúchos a necessidade de adotar um monotipo e este foi o Sharpie 12m² Internacional. A construção dos Sharpies teve início com a aquisição do desenho do barco trazido da Alemanha por Roberto Bromberg, que integrou o grupo de fundadores do Clube, em 1934. A primeira regata da classe Sharpie foi organizada em abril de 1935. A raia foi de marcada por três boias na zona portuária do Guaíba, uma em frente da sede do Frigorífico no cais do porto, a outra no aeroporto da Companhia Condor e a terceira na Ilha Grande dos Marinheiros. Roberto Bromberg foi o vencedor da competição.
Sharpies no trapiche do Clube sendo preparados para uma competição em 1935.
Pouco tempo depois, nas comemorações da Batalha Naval do Riachuelo, foi realizada uma competição com o Yacht Club de Porto Alegre. Este clube, de efêmera existência, situava - se na Tristeza. Leopoldo Geyer sempre teve o desejo de popularizar o esporte da vela. Preocupado com isso, criou, em junho de 1935, a " Caixa Cooperativista ", com o objetivo de proporcionar financiamento da compra de barcos visando a Regata Farroupilha, primeira competição interestadual de vela no país realizada em novembro do mesmo ano.
Walter Bromberg, primo segundo de Roberto, tem boas recordações do Sharpie. "Eu velejei nele quando jovem e na época era considerado um ótimo barco, porém não era estanque, em condições de ondas maiores a água entrava e precisava ser esgotada manualmente, senão, desestabilizava a embarcação. Acho que se pudesse contar com uma armação moderna, ao invés de mastro e retranca de madeira, teria superado até o 470 em rapidez. As velas, tipo carangueja, eram de algodão importadas da Alemanha e tinham um pano bem fecha do e leve, porém havia a preocupação de não molhá-las para não ficarem deformadas", conta Walter, que aos 83 anos continua a velejar. Na história do Veleiros do Sul, o Sharpie escreveu nomes memoráveis como o de Hugo Baumann, Roberto Bromberg, Hugo Lemcke, Erwin Ettrich, Eberhard Herzfeldt, Alfredo Bercht, Frederico Cativelli, Bruno Richter, Manfred Flöricke, entre outros. Estes foram responsáveis por uma série de importantes prêmios e títulos nacionais, tanto individuais como por equipe.
Regata Bronze Amizade, competição entre velejadores gaúchos e catarinenses. Foto do torneio de 1943.
A aprendizagem era longa e difícil, porém teve grande número de velejadores por conta de sua velocidade e sensibilidade. Chegou a ser a classe de monotipos mais numerosa por vários anos no país. No seu auge, entre a década de 40 e 50, haviam 175 barcos inscritos na AVCS. O Sharpie viveu seu bom momento quando passou a ser Olímpico, nos Jogos de Melbourne, em 1956. O Brasil foi representado pela dupla de gaúchos Alfredo Bercht e Rolf Bercht, que ficou em 12º lugar, e a conquista do título mundial por Fernando Melcher em 1957. Sua popularidade foi perdendo espaço para o Snipe, de custo mais barato e mais leve e para os barcos de casco de fibra.
O Sharpie 12m² é um barco de meio convés, com bolina móvel, armado em sloop, com área de vela carangueja de (12m²). Construído com cavernas em V.
DADOS TÉCNICOS:
Comprimento: 5,99m
Linha d´água: 5,40m
Boca: 1,40m
Calado: N/D
Área vélica: 12m²
Deslocamento: 350kg
Projetista: J. Kroger
Material do casco: Madeira
Flotilha velejando no Saco dos navegantes no final da década de 30.
Revista O Minuano nº134. Setembro de 2014.