Isolamento social COm VIDa

Velejadores buscam solução na água durante a pandemia

Com a declaração da pandemia há 1 ano, a população mundial passou a ter a circulação restringida nas cidades. Pelas águas, também se viu restrições. Os cruzeiros de turismo foram impedidos de operar e o desembarque de tripulações de navios foi impedido, por meses. Na navegação de recreio também houve restrição, culminando na proibição de circulação nos clubes náuticos, onde o acesso é permitido somente para embarque e desembarque.

Os veleiros da classe Oceano são embarcações de recreio com infra-estrutura para navegação em alto-mar por meses a fio, dependendo do porte. O Brasil dispõe de centenas de clubes náuticos e marinas que abrigam milhares de veleiros Oceano, e que passaram a ser vistos como uma opção para o isolamento social.  

Para quem pode trabalhar em home office, veleiros navegando em regiões com acesso à internet vem se tornando, já há alguns anos, um bom ambiente de trabalho, pela importância do sossego nas atividades intelectuais. No entanto, para usufruir da tranquilidade de um veleiro como uma base para viver e trabalhar por meses, não basta dispor do valor para adquiri-lo. Ao contrário da compra de um imóvel, para usufruir de um veleiro é preciso ter habilitação específica e de todo um conhecimento multidisciplinar, incluindo navegação, meteorologia, mecânica, elétrica e outros, incluindo culinária.  

O comandante Gustavo Erler Lis e sua esposa Claudia Welter velejam assiduamente há vários anos, tendo por base o tradicional clube náutico Veleiros do Sul, em Porto Alegre. Trabalham com tecnologia e tiveram que abandonar o escritório devido ao isolamento social, mas não se conformaram em trabalhar em casa. Com pouco mais de 40 anos, estão na idade de ouro para empreender uma fase de vida desafiadora.

 

   

 

Em março de 2020, encheram os tanques do veleiro com combustível e água, estocaram mantimentos a bordo e desatracaram do Veleiros do Sul para velejar pelo Rio Guaíba. Aquele desejo antigo do casal, de sair para velejar sem prazo definido, veio à tona. Em maio haviam chegado a São Lourenço do Sul, na Lagoa dos Patos. "A avaliação de morar a bordo foi bastante positiva", disse o Comte. Gustavo, acrescentando que "o covid foi o gatilho para decidirmos pela viagem planejada".

De São Lourenço do Sul, seguiram para Rio Grande, ponto de acesso ao Oceano Atlântico, rumo a Florianópolis. Gustavo e Claudia já tinham feito essa travessia em 2019, como também para Punta del Este, no Uruguai, em 2018. Enfim, já tinham velejado milhares de milhas juntos, desde 2006. 

Em Itajaí, já em agosto, resolveram adequar a área disponível para o trabalho e trocaram o veleiro Delta 36 por um Delta 41, com 12,3m de comprimento. Em dezembro, navegaram de Portobelo a Ilhabela, Ubatuba e Angra dos Reis.

A rotina de trabalho permanece inalterada. "São dias de trabalho normais", diz Claudia, que passa a maior parte do dia a bordo em reuniões de trabalho por vídeo, como fazia em Porto Alegre. O comandante lamenta a falta de convívio com os amigos na varanda do Veleiros, mas lembra que de qualquer forma isso não seria possível nestes tempos de epidemia. Por outro lado, dispor de escritório rodeado de belas paisagens, em vez de ficar trancado em casa, não é para qualquer um. 

Um ano após a partida, Gustavo e Claudia mantém o Tobago Cays, nome com que batizaram o novo barco, apoitado na Ilha Grande, em Angra. Planos é o que não falta para essa tripulação aguerrida. Em setembro deverão navegar de Recife à ilha de Fernando de Noronha, participando da REFENO, e daí seguirão ao Caribe. Como se percebe, o nome do novo barco não foi escolhido à toa.

A vida a bordo e o cotidiano profissional alteraram bastante a rotina pessoal do casal e principalmente a forma de ver o barco, não mais como recreação de final de semana. Com certeza, um desafio e uma jornada interessante para acompanharmos.

No final da jornada diária de trabalho em Angra, por vezes vão de bote à praia para buscar o Leite da Macaca, a batida de côco inigualável do bar da Telma. 

Por Danilo Chagas Ribeiro