Veleiro Angela II na Regata Cape Town to Bahia

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Dia 28.01.09 Horário GMT: 01:00 UTC
Posição: Salvador
Dias navegados: 24
Distância percorrida desde Santa Helena: 1.953 milhas


A luz do sol poente e uma massa de nuvens baixas dificultam a visualização da costa, mesmo assim o Paulo consegue distinguir os contornos dos prédios de Salvador a 25 milhas de distância. O vento aumentou de velocidade de as ondas ficaram mais altas pela redução brusca da profundidade de 4000 metros para menos de 100 metros onde andamos agora.Como sempre, não há ninguém no visual enquanto o barco continua navegando muito bem, frequentemente ultrapassando os 10 nós de velocidade. Temos ainda umas boas três horas de navegada até a linha de chegada localizada em frente ao elevador Lacerda. Passamos por rádio nossa posição para a comissão de regata e concentramos nossa atenção no barco que começa a ficar um pouco instável pelas condições do mar.

O vento leste aperta um pouco mais, com rajadas que chegam a 25 nós, enquanto nos aproximamos da cidade navegando agora em popa rasa. Salvador começa a ganhar contornos mais definidos e já é possível individualizar os faróis dos carros que percorrem a orla marítima. Não vai ser fácil contornar o farol da Barra sem dar um gibe, mas o Paulo força o rumo aproveitando as rondadas de vento e vamos indo em frente. Passamos rente a costa, próximo do banco de Santo Antônio e conseguimos chegar ao farol sem fazer a manobra. Para entrar na baia somos obrigados a baixar o balão e abrir a genoa pela primeira vez desde a largada da regata em Cape Town. O vento ronda um pouco, aumentando e baixando de intensidade até firmar numa condição favorável para nós.

Em orça folgada o barco torna a ganhar velocidade e ruma diretamente para a chegada que está a uma milha e meia de distância. Em seguida surgem dois infláveis que nos dão boas-vindas em nome do povo baiano e passam a escoltar o Ângela II nesse final de navegada. Aos 00:36 minutos do dia 28 de setembro, depois de 24 dias no mar e 3.711 milhas navegadas, cruzamos a linha que nos remete de volta para a condição de pessoas urbanas, à qual estaremos adaptados em uma questão de horas. É a vida.

No cais da marina estão atracados o Keealoha e o Strega, os dois únicos barcos a chegarem à nossa frente. O resto da flotilha ficou novamente para trás. O comodoro do Royal Capel Yatch Club e sua esposa estão nos píer a nossa espera. Uma baiana vestida a rigor segura uma bandeja com cinco caipirinhas e várias fitinhas do Nosso Senhor do Bom fim. Descemos e nos abraçamos para comemorar. Foi muito bom.

Dia 27.01.09

Aproximação de Salvador

Agora são 13 horas e estamos a oitenta e quatro milhas de Salvador, um pouco mais do que a distância do pontal de Tapes até Porto Alegre. O vento diminuiu um pouco de intensidade, para 12 milhas, e nossa velocidade média deve ser de uns sete nós. De acordo com o site da regata estamos na frente de toda a flotilha, inclusive dos catamarãns, exceto do Keealoha e o do Strega, exatamente como ocorreu na chegada em Santa Helena. O próximo barco atrás do Ângela II é o Avanti a cerca de 20 milhas e depois o Farway a 30 milhas de distância. Se não ocorrer nenhum imprevisto, este será o resultado final, a conferir daqui a mais algumas horas.

 

Dia 26.01.09 Horário GMT: 24:00 UTC
Posição: LAT 13º34 S LONG 35º17 W
Dias navegados: 23
Distância percorrida desde Santa Helena: 1.758 milhas
Distância de Salvador: 194 milhas


O Ângela II é o barco mais asseado em que já naveguei até esse momento, tenho absoluta certeza. Para quem não conhece e quer entender a dimensão do que estou dizendo recomendo a leitura cuidadosa da obra de Santo Agostinho sobre as implicações das manchas do pecado original. O Ângela II nasceu sem manchas, branco como um cordeiro pascal. A longa viagem, no entanto começa a cobrar seu preço sem muita cerimônia. O comandante continua firme na posição de guardião dessa boa alma para que chegue a Salvador com a transparência das águas do Guaíba, mas não sei se vai conseguir. Fazemos o possível para ajudar é claro.

O lixo não degradável é cuidadosamente lavado e posteriormente guardado em sacos de lixo de alta resistência estocados em um paiol na popa. O lixo degradável vai direto para o mar através de uma vigia que existe em frente a pia da cozinha. Como era de se esperar, dependendo das condições do vento, o convés acaba virando a lata de lixo e, em algumas circunstâncias de barlavento, as vigias das cabines de popa acabam engolindo a metade das porcarias jogadas em direção ao oceano. Quando isso acontece o comandante ruge como um leão ferido, mas não há muito o que possamos fazer.

Ontem a tardinha o vento amainou bastante, mas voltou com toda a intensidade durante a noite. Pela manhã a navegada foi simplesmente espetacular com vento nordeste de até 25 milhas e mar crescendo em altura. Nessas condições o piloto não agüenta e temos que nos revezar no leme, cada um se achando melhor timoneiro do que os demais. Uma insanidade. Emocionado pela qualidade da navegada fiz o que me parece ter sido a melhor comida de toda a viagem, carne de panela com batatas que dedicamos com um triple hip,hip hurra a uma velha empregada com quem aprendi a receita sem nem me dar conta. O pão feito ontem embatumou e vamos ter que fazer outra fornada hoje a tarde.

Levamos hasteada junto a cruzeta de boreste o que imaginamos se próprio para águas internacionais: a bandeira do Inter. Ontem fiz minha primeira intervenção médica a bordo com absoluto sucesso. Depois de muito fuçar na balsa salva vidas o Paulo me apareceu com as mãos cheias de pápulas perguntando se podia passar Minancora. Ponderei com ele que por não estarmos “ancorados” seria melhor optar por um tratamento convencional. Um corticoide resolveu o caso em vinte quatro horas. O vento firmou de vez e a velocidade do barco quase não baixa mais de 10 nós e nossa última singradura foi de 200 milhas. Tem uma turma grande aqui perto de nós, mas ninguém dentro do visual. Como não houve nova largada em Santa Helena e os barcos saíram em horários e até dias diferentes não é possível avaliar quem está na frente do tempo real.

Dia 24 .01.09 Horário GMT 16:00 UTC
Posição: LAT 15º10 S LONG 028º11 W
Dias navegados: 21
Milhas percorridas desde Santa Helena: 1340
Distância de Salvador: 615

Graças a Deus o vento voltou a soprar mais forte ontem a noite com uma intensidade média de 13-14 milhas que nos permite velejar a uma velocidade média de 7-8 nós. Salvador está agora a cerca de 600 milhas de distância. Não parece muito longe para quem saiu do outro lado do oceano, mas significa ainda uns bons quatro ou cinco dias de navegada, isso se o vento não morrer de novo. O barco se comporta perfeitamente.

As reformas feitas durante a travessia transformaram o Ângela II numa competente máquina para cruzar oceanos com relativa tranqüilidade. A moral da tripulação continua do jeito de sempre, lá nas alturas. O comandante dando as ordens e a choldra executando sem grandes questionamentos. As manobras de convés estão cada vez mais automáticas.

Desde Cape Town já mudamos quatro vezes de horário o que nos causa um certo “boat lag”, que se faz sentir com mais intensidade na troca de turnos e na abertura do bar. Talvez esteja na hora de iniciar algumas reflexões no sentido de voltar a vida em terra firme sem grandes traumas. Digo sem traumas porque é assustadoramente fácil virar um vagabundo do mar, pelo menos no conforto morno dos Trade Winds.

Como já me referi antes, a regata depois de Santa Helena virou um jogo de xadrez difícil de interpretar. As posições oficiais são totalmente irreais pela falta de reportes de alguns barcos, sobretudo referentes ao uso do motor. Nesse momento não temos a menor idéia da nossa posição em relação aos concorrentes. O português do Faraway que estava aí ao lado a dois dias atrás sumiu completamente, não sabemos se a frente ou atrás do Ângela II. Os peixes também desapareceram, tanto da isca como do convés. O comodoro Streppel me sugeriu uma palestra sobre comida de bordo dirigido a velejadoras do clube, coisa que declinei na hora pela falta de vocação oratória. Acho que ele desistiu, porque não voltou mais a tocar no assunto. Falando nisso, para quem se propõem a cozinhar em regatas trans-oceânicas, alguns conselhos curtos e muito importantes.


· Esse é dos cargos mais nobres dentro de uma tripulação.
· É um dos maiores desafios que um tripulante pode assumir dentro de um barco.
· Cozinheiro tem que ser cachorro grande, preferencialmente chefe de matilha. Numa viagem desse tipo não existem gatinhos a bordo. O menos graduado é no mínimo raposa com Phd em todos os tipos de sacanagem. Qualquer cozinheiro menos avisado corre o risco de ser triturado pela marinheirada de porão no primeiro dia de navegada.
· O inverso também é verdadeiro. Marinheirada que não é rápida no gatilho corre sempre o risco de ser dominada pelo cozinheiro, desde que ele seja realmente chefe de matilha, vale ressaltar.

PS - para reconhecer quem é chefe de matilha é só levar para perto da cachorrada. As fêmeas ficam mais meigas na hora. Os machos partem direto pra mordida no pescoço.

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Dia 23.01.09 Horário GMT: 21:00 UTC
Posição: LAT 15º11 S LONG 26º16 W
Dias navegados: 20
Distância percorrida desde Santa Helena: 1.216 milhas
Distância de Salvador: 725 milhas

O vento continuou fraco durante todo o dia, quase sempre abaixo dos 10 nós de velocidade. Nessas condições a viagem muda completamente de figura. Até parece que estamos em férias. Passamos boa parte do dia conversando fiado no cockpit, olhando para o mar sem muita outra coisa para fazer. Tudo funciona perfeitamente no barco. Então a marinheirada começa a afiar a conversa e emitir pareceres inacreditáveis sobre os assuntos mais variados da vida em geral.


Cansado de tanto aprender, resolvo me recolher no beliche para uma cochilada antes da janta. Sonho que no calor das discussões a tripulação divide-se em duas facções filosóficas antagônicas, uma notavelmente cartesiana a outra completamente alinhada com o divino pensamento espinosano. Eu, por falta de cultura não participo das discussões, e nem poderia, pela investidura dos meus compromissos na cozinha de bordo.

Na metade do sonho o clima de introspecção a bordo é profundo, enquanto os dois grupos debatem furiosamente a influência de Espinosa na obra de Freud. Para os espinosanos as paixões, as relações entre a alma e o corpo, a afirmação de Espinosa de que a razão não vence um sentimento, mas somente um outro sentimento mais forte e contrário nos levam diretamente a essência do pensamento psicanalítico freudiano. O outro grupo discorda, citando de forma insistente passagens do Tratado sobre a reforma do intelecto na qual o grande filósofo concebe a fundamental diferença entre conhecer por imagens e opiniões e conhecer por idéias verdadeiras.

Acordo com essa cena ainda na cabeça e vou enxugar uns pratos na cozinha. Sou um homem simples e rústico como os seixos que cobrem o leito do rio Urubamba. Não sou dado a muita leitura e tenho pavor de filosofia. Meu negócio nesse momento é ganhar a regata.

Interpreto essa distância dos grandes temas como uma estratégia simplória para manter o foco das minhas energias no que realmente interessa nesse momento - ganhar a regata tanto no real como no tempo corrigido. Num esforço quase superior às minha limitada capacidade intelectual, encontro em Ortega e Gasset a explicação para tão desatinada esperança vã - “afinal se o homem e o cavalo existem, o centauro é uma possibilidade”.


PS - no final da tarde uma baleia passou bem na nossa popa espalhando aquele chafariz expiratório fantástico. Essa é sempre uma visão impressionante. Por sorte não mordeu a nossa isca.


Dia 22 .01.09 Horário GMT: 18:00 UTC
Posição: LAT 15º36 S LONG 023º27 W

Dias navegados: 19
Milhas percorridas desde Santa Helena: 1.094
Distância de Salvador: 890

As condições do tempo no Atlântico Sul são determinadas pela zona de alta pressão em torno da qual a circulação se faz no sentido anti-horário e cujo centro, nessa época do ano, se localiza mais ou menos a 32º S e 10º E. Desde a saída em Cape Town a pressão atmosférica está estabilizada em 1080 e 1020 milibares. Nunca variou durante toda a viagem.

As condições do tempo também não tem se alterado, com exceção da intensidade do vento: céu azul, poucas nuvens e temperatura agradável. Nos últimos três dias o vento diminuiu sensivelmente, soprando do quadrante sul e esporadicamente do leste. Dependendo do “swell” conseguimos manter o barco navegando com ventos de até oito milhas de velocidade. Abaixo disso ligamos motor. As singraduras caíram abaixo de 150 milhas. Sem a dinâmica do vento a navegada fica meio monótona, mas nem por isso nos falta o que fazer a bordo.

A cozinha funciona como um relógio, sem repetição de um único prato durante os 19 dias navegados até agora (o comandante pede para avisar ao Joel que vai mesmo sobrar feijão). Hoje, fiz um filé a pé no almoço - filé frito, batata frita, ovo frito e arroz. Nesse tipo de refeição o consumo de azeite é um absurdo, a logística um desafio quase insuperável para um fogão de três bocas e as repercussões no sistema circulatório absolutamente nefastas. Saí da cozinha direto para o banho. A turma da louça penou um bocado para botar o barco de volta nos eixos. Tinha graxa grudada até a ponta da quilha.

Apesar de comer e lamber os beiços, o comandante Renato (certamente com o aval da Ângela) voltou a insistir que essas minhas frituras esporádicas são em realidade mísseis do inconsciente utilizados para atacar o patrimônio da família Plass de forma ignóbil toda a vez que as reservas de maldade começam a me sair pelo ladrão da alma. Até pode ser, sobretudo porque essa não é a primeira vez...


No final da tarde outra novidade entrou em cena para preencher a escasses de emoções decorrentes da falta de vento. De dentro da cabine ouvimos uma barulheira inexplicável vinda do convés, ao mesmo tempo em que algo bloqueava completamente a visão através das gaiutas. Cada um de nós pensou numa coisa diferente. Os mais criativos chegaram a imaginar um helicóptero ou alguma peça de satélite caindo em cima do barco. Corremos todos para cima onde o Paulo, sentado no timão, acompanhava com ar estupefato a balsa salva vidas procurar espaço entre a retranca, o burro e o teto da cabine para exibir a imponência de sua envergadura plena.


Sem nenhum aviso, a ordinária disparou o cilindro de ar-comprimido e inflou completamente, nos deixando ali paralisados, com caras de bobos, porque não há mesmo o que fazer numa situação dessas. Depois que o processo se inicia, vai irremediavelmente até o fim. Avaliamos a situação da forma pragmática de sempre e resolvemos deixar a balsa inflada assim como está, em cima da cabine, para qualquer eventualidade. Se acontecer qualquer emergência, ela já está pronta para ser usada.

Aprendemos que não é interessante cobrir a caixa da balsa salva vidas com nenhum tipo de proteção. Ao se iniciar a expansão a caixa abre ao meio e a balsa precisa de espaço para se expandir. Vale também ressaltar que o equipamento havia sido revisado seis meses antes e considerado apto para a travessia por um agente autorizado na cidade de Rio Grande. Vá confiar num serviço desses!


Dia 20.01.09 Horário GMT: 22:00 UTC
Posição: LAT 15°23,15 S LON 18º23,4 W

Distância de Salvador: 1.180 milhas

Amanhecendo.

Mais um dia de calmaria. O vento não passa de 10 nós. A baixa velocidade do barco associada ao balanço das ondas torna a velejada um pouco desagradável. Frequentemente baixamos a vela grande e deixamos só o balão em cima para minorar o balanço da retranca. Quando o vento cai muito, aproveitamos para usar a nossa cota de motor que é de 65 horas para toda a regata. Temos direito a fazer umas 500 milhas a motor. Estamos muito próximos do Faraway um Jeanneau Sun Odissey 49 de bandeira portuguesa que elegemos como nosso concorrente de estimação desde a saída em Cape Town dezessete dias atrás.

Navegam nele o comandante e dois tripulantes, um dos quais espanhol. De bebida, só levam água a bordo. Não é por pouca coisa que chegaram tão “far away” da nossa popa (24 hs) na perna Cape Town - Santa Helena. Agora, no entanto, o português está caprichando na velejada e não sai do visual já faz uns dois dias. Os navios sumiram por completo, o que significa que ultrapassamos o corredor marítimo que leva ao Cabo da Boa Esperança.

Corredor de petroleiros

No início da tarde o Paulo deixou ir para água um pé do chinelo com o qual ele tinha uma relação muito estreita. Estudamos todas as estratégias possíveis para recuperá-lo e acabamos com a esperança de que a corrente subtropical do sul possa levá-lo até uma praia de Salvador onde seria possível resgatar a perda. Pelos próximos seis meses vamos colocar um anúncio semanal no Diário da Bahia oferecendo uma recompensa para quem encontrar o chinelo.

Rompeu a linha

O ponto alto do dia foi o final da tarde quando finalmente um peixe mordeu a isca e disparou o alarme sonoro da carretilha. Foi uma correria geral. Não sabemos que peixe era, mas estimamos que tivesse no mínimo uns cinqüenta quilos. O combate não durou muito tempo, uns quinze minutos talvez, até o clipe de metal que conecta a linha de nylon com isca romper deixando o peixe escapar. Acho que nos precipitamos um pouco, mas talvez tenha sido melhor, porque dominar um animal daquele porte no início da noite ia ser uma operação meio complicada para quem não é profissional no assunto.

No dia seguinte o Streppel recolheu mais um peixe voador dormindo tranqüilo no convés do Ângela. Deve ser o prêmio de consolação que o mar nos enviou para compensar a linha rompida.

 

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Dia 19.01.09 Horário GMT: 22:00 UTC

Posição: LAT 15°26 S LON 13°02 W

Levantamos cedo, já trabalhando em idéias para liberar a adriça do balão presa no top do mastro. Precisamos resolver isso antes que o vento aperte ou que aconteça alguma coisa que nos obrigue a descer a vela. Tentamos de tudo, sem sucesso. Como sempre, o assunto foi calmamente discutido entre o comandante e a tripulação.

Sem outra alternativa, decidimos subir no mastro outra vez. Depois dos treinos preliminares ficamos muito bons nisso. Ao contrário do que parece, é uma operação rápida e bastante segura. Com uma boa cadeira, dois cabos resistentes e alguém confiável nas catracas e difícil dar algo errado. Além disso, levamos um cinto de segurança que nos prende no mastro e protege do movimento pendular do barco enquanto estamos com as mãos ocupadas.

Comemorando as soluções

Lá em cima liberamos com facilidade a adriça do balão que estava enrolada no estai de proa. Depois, aproveitamos para atacar o problema da vela grande que nos atrapalha a tanto tempo, passando uma segunda adriça completamente por fora do mastro. A operação foi um pouco mais complicada, mas conseguimos.

O dia estava quente. Comemoramos no meio do maior suadouro. O comandante assou um churrasco e, como era domingo, ficamos a tarde toda sem fazer nada, ouvindo música selecionada pelo Paulo e conversando fiado.

Lá pelas tantas o Ipod caiu no chão do cockpit e parou de funcionar. Como aquela naturalidade de sempre, abrimos o bicho na hora e consertamos o problema em poucos minutos. É assim que tudo tem funcionando a bordo. O vento caiu muito de intensidade, mal chegado a 10 knots e a nossa singradura caiu para menos do que 150 milhas. Estamos bem na rota dos navios que descem do hemisfério norte pelo oeste em direção ao Cabo da Boa Esperança.

Entre ontem e hoje, já passaram três, todos detectados pelo alarme do AIS. Ontem falamos pelo rádio com o skipper de um veleiro da Moorings que entrou no visual e está sendo levado para o Tahiti via canal de Panamá. Tem alguns barcos da regata por perto, mas ninguém no visual.


Dia 18.01.09 - Horário GMT: 08:00 UTC

Posição: LAT 15°34,7 S LON 11°35,6 W

O alarme do AIS disparou ontem a tarde avisando que havia um navio há nove milhas de distância. O aparelho funciona como um VHF e informa o nome, o destino e a rota da outra embarcação desde que ela também tenha a bordo o mesmo tipo de equipamento. Em termos de segurança contra colisão, o AIS é melhor do que o radar, mas precisa estar instalado nos dois barcos, o que nem sempre acontece.

Por incrível que pareça esse é o primeiro navio que passa por nós desde que saímos de Cape Town. Os outros barcos da regata também estão completamente fora do alcance do radar. O vento rondou um pouco para sul, mas continua firme, oscilando entre 10 e 16 milhas de velocidade. À tarde, o tempo ficou um pouco nublado e o vento mais inconstante, com algumas rajadas que chegaram a 25 milhas de velocidade, lembrando o padrão dos pirajás do litoral brasileiro.

Ampulheta

Cada vez mais difícil

Em Santa Helena invertemos a adriça do balão que estava com sinais de desgaste, ainda que bem menos intenso do que a adriça da vela grande. Por falar nela, continuamos fazendo curativos diários no ponto de atrito, agora com esparadrapo comum para poupar o dacron que está quase no fim. Além desses dois problemas, tudo mais funciona perfeitamente a bordo. Vez por outra o piloto dá uma engasgada, mas em seguida o Paulo desce no porão armado com um martelo e a coisa volta a funcionar.

Paulo lutando com o piloto

Na madrugada, numa dessas engasgadas do piloto, o balão desarmou e acabou fazendo uma ampulheta no estai de proa. Foi um stress geral. Gastamos quase duas horas para desfazer o nó, mas a adriça ficou enrolada no tope não permitindo que baixássemos mais a vela. Lá pelas quatro da madrugada, depois de inúmeras tentativas, desistimos de liberar a adriça e rearmamos o balão do jeito que estava, deixando a solução para o dia seguinte.


Dia 16.01.09 Horário GMT: 09:00 UTC
Posição: Saindo de Santa Helena

Dia 15.01.09 Horário GMT: 08:00 UTC
Posição - Ilha de Santa Helena
Ontem fizemos um tour a bordo de um carro aberto, ano 1926. Visitamos a casa em que Napoleão viveu os seus últimos dias e outros pontos interessantes da ilha que tem cerca de 120 km quadrados e é toda habitada. A parte central é mais elevada e apresenta-se coberta de nuvens que provocam pequenas pancadas de chuva enquanto o sol brilha na beira do mar. Lá em cima a temperatura é de uns cinco graus inferior a da parte mais baixa.

Casa onde viveu Napoleão

Jamestown fica justamente no meio de um estreito vale apertado entre dois imensos paredões de pedra, o topo de um dos quais pode ser acessado através de uma escada com 600 degraus. Nenhum de nós se habilitou a subir. No parque que circunda a residência do governador tivemos a oportunidade de conhecer Jonathan, o habitante mais antigo do local, uma imensa tartaruga cuja idade é estimada em 240 anos. Na volta passamos no super mercado para abastecer a despensa.

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Jonathan, 240 anos de idade

Santa Helena foi descoberta pelos portugueses em 1502, mas nunca chegou a ser efetivamente ocupada, permitindo que se tornasse uma possessão inglesa na metade do século XVII. Desde sua descoberta as florestas da ilha foram sistematicamente devastadas e sua flora é uma mistura de árvores vindas de todas as partes do mundo.

A origem vulcânica deu origem a enormes paredões que se fundem com o mar sem dar chance para a formação de praias. O ponto mais elevado tem cerca de 840 metros e as vistas são magníficas, A população no último senso feito em 2008 era de 4.255 pessoas, a maioria constituída de funcionários públicos. A única riqueza local, além da burocracia parece ser a produção de café, ainda que não tenhamos visto um único pé.

O turismo é restrito, não só pela distância da ilha em relação aos continentes, como também pela inexistência de linhas regulares de navegação. Só há um navio de pequeno porte que faz transporte de carga e passageiros entre o continente e as ilhas de Ascensão e Tristão da Cunha. Existe um projeto para construção de um aeroporto que não parece estar entusiasmando muito os habitantes locais. O ponto mais notável na história de Santa Helena foi ter sido o local onde Napoleão foi exilado em 1815, vindo a morrer em 5 de maio de 1821.

Conselho Editorial de Bordo

Dia 13.01.09 Horário GMT: 09:00 UTC
Posição - Ilha de Santa Helena

James Bay

James Town

Contornamos a Mundens Point às 11 horas e visualizamos as luzes de uns seis ou sete veleiros ancorados dentro da pequena James Bay que poderiam ser dos nossos concorrentes ou não. Em seguida constatamos que nossa posição havia se mantido inalterada em relação ao último “report” da comissão de regata. Chegamos em terceiro, atrás do Strega ( First 47.7 com bandeira alemã) e do Kealoha 8 (Oyster 72 pés com bandeira da Inglaterra) e a frente de toda a flotilha de catamarans. Deixamos trinta barcos para trás, inclusive o Faraway, um dos nossos fortes adversários (Jeannou 49.9 com bandeira portuguesa) que chegou quase 15 horas depois. Fizemos uma sopa e abrimos uma champanhe para comemorar quando passava da meia-noite.

Keelahoa 8

Jeannau 49

Strega

Dia 13.01.09 Horário GMT: 09:00 UTC
Posição: LAT S LON W

Hoje às 8,00 horas da noite avistamos as primeiras luzes de Santa Helena. Iniciamos o contato por rádio a partir das 25 milhas, mas só conseguimos falar com eles quando chegamos a menos de 10 milhas de distância. O vento apertou e fomos obrigados a baixar o spinaker. Quando chegamos próximo, a lua cheia subiu no horizonte e iluminou os paredões de pedra que circundam a ilha. É uma visão impressionante do Sugar Loaf. Como não recebemos mais notícias da comissão de regatas só saberemos nossa classificação ao chegar no ancoradouro na baia de Jamestown localizada no lado norte da ilha.

A ruptura do cabo do pé do genaker e a quebra do pau de spinaker nos fizeram perder bastante tempo no início da regata, mas as singraduras dos últimos dias e a rota escolhida pelo comandante nos deixam com a certeza que vamos estar entre os primeiros colocados. A orientação da operadoa de rádio é de fundear com a âncora em uma profundidade de aproximadamente 20 metros a cerca de 50 metros do píer.

DESSALINIZADOR

Temos a bordo quatro tanques com capacidade para 1000 litros de água, um volume adequado para quem vai ficar cerca de 30 dias no mar, mas que precisa ser economizado de forma criteriosa na maioria dos barcos de regata ou passeio. No Ângela II, porém, a economia de água joga contra nós. O dessalinizador transforma a água do mar em água doce e nos fornece cerca de 60 litros/hora que precisa ser consumida para não sobrecarregar os tanques. Até banho tomamos para dar conta do consumo. O custo energético é bem significativo: 30 ampéres hora. A água dessalinizada tem um gosto um pouco diferente, mas é potável e até melhor que a água de torneira segundo alguns entendidos no assunto. À medida que for encurtando o nosso tempo de chegada teremos que parar com a produção e esvaziar progressivamente a água dos tanques para deixar o barco mais leve. Caso ocorra alguma pane no dessalinizador ou com gerador, como ocorreu no início da viagem, seremos obrigados a usar de forma parcimoniosa a água que carregamos como reserva técnica, parar com os banhos e voltar a lavar a louça com água do mar.

Conselho Editorial de Bordo

capetown8

Dia 12.01.09

Horário GMT: 07:00 UTC
Posição: LAT 19º42.2 S LON 002°05.9 W

Para quem imagina que uma travessia de 3.400 milhas náuticas é necessariamente um exercício de desconforto físico e mental, mandamos um breve recado. Depende muito das condições meteorológicas, é óbvio, do barco, do comandante e, sobretudo, do entrosamento da tripulação que pode transformar qualquer cruzeiro ou regata em uma guerra de vida ou morte. Com relação ao tempo, a solução é buscar rotas e períodos do ano mais favoráveis para a navegação, como é o nosso caso nesse momento.

O bom aproveitamento dos Trade Winds que sopram de sueste durante todo o ano e da corrente de Benguela que varia de 0,5 a 2,0 knots em direção ao norte nos levarão mais rapidamente ao nosso destino em Salvador, Bahia. Foi assim que alguns anos atrás Amir Klink realizou sua travessia trans-atlântica, movido por um simples par de remos, e os portugueses dominaram o comércio marítimo no século XVI a bordo de embarcações completamente impróprias para navegar contra a direção dos ventos. Mesmo nos dias de hoje, navegar contra o vento não faz muito sentido, a não ser em condições especiais. Ao contrário da maioria de nós, os marinheiros portugueses sabiam esperar a hora certa para partir e navegar sempre com ventos a favor.

Conselho Editorial de Bordo
ÂNGELA II

Ontem o vento oscilou entre 07 e 19 nós, soprando de sueste, nos conduzindo diretamente no rumo de Santa Helena. Dependendo da intensidade do vento a velocidade do barco oscila entre 5 e 10 knots, com singraduras de aproximadamente 150 milhas.

Todas as panes ocorridas a bordo até agora foram solucionadas pelo skipper Paulo com muita competência, exceto o problema da adriça da grande que vem se agravando com o passar do tempo.

Na tarde de ontem, passadas menos do que 48hs do último conserto em que tentamos reforçar o cabo nos dois pontos de maior atrito, a adriça simplesmente rompeu completamente e a vela desabou na hora. Colocamos a adriça reserva e subimos a vela em poucos minutos, para não perder muito tempo. Desde então o Paulo não para de andar de um lado para o outro do convés esbravejando contra os supostos responsáveis por essa desagradável surpresa escondida no interior da mastreação que desafia nossa paciência de forma desnecessária. Ele tem toda a razão.

Nosso primeiro peixe

O que coloca os barcos em risco não são os grandes problemas, mas sim esses detalhes ridículos, completamente impossíveis de prevenir sem a participação efetiva de todas as pessoas envolvidas no planejamento antes da partida. Daqui para frente teremos que revisar a adriça com mais regularidade e torcer para que seja possível resolver o caso em Santa Helena.

Remendo no balão

Se a coisa se agravar, teremos que subir novamente no mastro para encontrar alguma solução viável nas circunstâncias atuais - talvez achar um jeito de fixar uma polia em algum outro ponto no top e passar a adriça por fora do mastro longe dessa armadilha completamente impossível de corrigir durante a navegada.

Virando panquecas

A tática adotada pelo comandante Renato de buscar o vento sueste deu resultado pois nas últimas horas o vento rondou favoravelmente nos colocando na terceira posição, a frente de praticamente toda a flotilha e com o rumo direto a Santa Helena. Com o balão em cima só nos resta trimar as velas, caprichar na descida das ondas e tocar em frente em busca do Strega, um First 47.7 com bandeira alemã e do Kealoha 8 de Southampton, um Oyster 72 pés com bandeira da Inglaterra.

11 de janeiro, hora 09:00 GMT

POSIÇÃO LAT 20° 36 S LON 001° 20 W

Tudo funciona perfeitamente, exceto o dessalinizador, o piloto e a adriça da grande que continuam sendo sistematicamente chicoteados pelo tio Paulo para cumprir suas vocações marinheiras com a competência esperada. O tempo continua bom e o vento relativamente estável. Balão direto em cima nos últimos três dias, com um único jibe para manter a VMG dentro de padrões aceitáveis.

A moral de bordo anda em patamares altíssimos graças ao talento do comandante Renato, a boa comida feita pelo inacreditável Dr.Ney e o empenho da tripulação em ganhar a regata. Nas últimas 24 horas fizemos um notável avanço em relação ao resto da flotilha e só estamos atrás do Keealoa, um Oyster de setenta e tantos pés (foto anexa do site oficial da regata).

Lamentavelmente que nossa medição não irá ajudar muito no tempo corrigido. Por alguma dessas razões matemáticas complexas, nosso rating não é muito favorável e vamos ter que fazer muita força para ganhar no tempo corrigido. O comodoro Streppel e o Eduardo cuidarão das vias jurídicas para resolver o impasse logo que cheguemos em terra firme. Mas isso não faz muita diferença, porque o que nos interessa mesmo é navegar nesse imenso oceano e ganhar no bico de proa.

Hoje pela manhã ultrapassamos o meridiano de Greenwich com champanhe e voltamos ao oeste do planeta com a devida pompa. Neste momento estamos navegando a 837 milhas da costa da África e a 378 milhas de Santa Helena onde ficaremos por no mínimo 24 horas. Por incrível que pareça é como se estivéssemos começando a navegada hoje. Todo mundo numa boa, apesar da energia despendida na navegada. Site para acompanhamento da regata. A nossa classe é a cruise B. : www.southatlanticrace.co.za


Até mais.
Chef Ney Mario


8 jan 2009, 22hs local

Posição S 24 10,100 E 006 41,420

Metade do caminho percorrido até Sta.Helena. Dia positivo para o Angela II. Recuperamos posições apesar do vento fraco.
O conserto de ontem no dessalinisador deu certo. Nada como uma cola epóxi para eliminar o vazamento. Ponto para o Tio Paulo que fez um serviço de primeira e se livrou de ser jogado pela prancha. Com água a bordo o moral melhorou e o comandante liberou os banhos.


Após o conserto tentamos resolver o problema da genoa 3 que não conseguimos descer para trocar pela genoa 2. Levantamos o chef Ney na cadeirinha para o topo do mastro por 2 vezes. Apesar da coragem do “Mr. Cook 10 minutes” não conseguimos resolver o problema. Aproveitamos para trocar a adriça do grande que continua roçando em algo dentro do mastro e ameaçava se partir. Amanhã vamos fazer uma proteção para a parte afetada e tentar o conserto do piloto automático. O piloto esta funcionando, mas não desligamos com medo de ele não voltar a funcionar. Temos que ficar ajustando a direção com os recursos do piloto sempre na posição automática.


Agora o vento é de 13 nós e o barco caminha bem. Vento de 50 graus de bombordo. Hoje à noite o chef foi substituído pelo comandante Renato que preparou fantásticas “lagostas a querida”, que estavam no estoque desde Tristão da Cunha. O Ney ficou preocupado com o desempenho do comandante e resolveu assumir um turno a noite no timão para garantir uma vaga na tripulação.

 

capetown7

Os ventos não tem sido bons. Os ventos estão fracos e não sopram de sudeste conforme previsões, o que prejudica nosso desempenho. A tripulação esta bem entrosada e se divertindo muito. O barco esta bem equipado e bastante seguro.
Angela II


7 jan 2009, 9hs local
Posição S 27 01,975 E 009 09,478

Ney de pézinho de fora

Dia 6 navegamos de balão (já consertado) desde o inicio da manhã até as 6hs da manhã do dia 7. O vento variou de 15/18 nós durante o dia 6 caindo para perto de 6 nós a noite. O dia foi fantástico: Café da manhã com ovos e bacon e para os mais animados um cálice de vinho tinto. Lá pelas 3 horas churrasco preparado pelo comandante Renato. Maminha de Cape Town e entrecote do Pablo Miguel que havia sobrado da travessia Porto Alegre-Cape Town. Após o churrasco, iniciamos a limpeza da área. No final havíamos perdido a grelha da churrasqueira que foi mal amarrada quando colocada no mar para limpeza. Achamos que os peixes estavam com fome e não resistiram aos restos. Recado para o Manota - ir separando uma nova em POA com desconto para o comandante Renato. Durante o churrasco o chef Nei aproveitou para secar os livros de receitas ao ar livre e então descobrimos como ele escolhe os cardápios diários. Coloca os livro abertos e deixa o vento virar as folhas. Onde parar a página vira o cardápio do dia.

A grelha, antes de ser perdida

Ao final da tarde a segunda encrenca do dia. Faltou água nas. Desalinizador não estava funcionando direito. Colocou toda a água produzida na Santina e a bomba de porão devolveu para o mar ; vale o velho ditado”tudo retorna ao mar”. Após desmontar tudo, a conclusão: Vazamento na entrada do desalinizador. Estamos sem produzir água desde então e a ordem do comandante é tolerância zero nas torneiras. Só a escova de dentes é que pode ser molhada.

capetown1

Consertando o dessalinizador

Hoje pela manhã entramos numa zona de pressão alta e o vento caiu a zero. Somente vela grande em cima. A previsão é calmaria para as próximas 24 horas, então estamos desmontando e montando as encrencas na tentativa de consertos. Afinal, só precisamos consertar o desalinizador e o piloto automático. A tripulação continua animada, até porque pelas posições recebidas estamos com a turma da frente na regata.
Angela II

6 janeiro

Veja as posições dos barcos no terceiro dia de competição da Cape to Bahia. Clique aqui

5 jan 2009, 16hs local

Posição S 30 04,009 E 012 43,571

Pau spinnaker quebrado

Jantar do dia de ontem: pastelão a Leopardos em homenagem aos 4 catamarãs que ultrapassamos até a noite. Velejamos no balão desde às 9hs do dia 4 até hoje pela manhã. Navegamos bem andando entre 9 e 11 nós. Hoje pela manhã às 6h30min no turno do Eduardo o barco atravessou com o balão em cima e tivemos que retirá-lo. Consequências: Ninguém machucado, muita água dentro do barco, pau de spinaker quebrado e balão rasgado. Colocamos a genoa 3 e seguimos com ela até agora com média de 7 nós.

capetown9


Durante o dia retiramos as ponteiras do pau de spinaker para aproveitá-las e colocamos o reserva na posição. O balão já foi consertado e está pronto para a próxima. Dentro do barco molharam as camas de boreste, fogão, mesa de navegação e a moral. Os equipamentos elétricos pararam de funcionar até que o Ney sugeriu atacarmos de secador da tia Angela.

Com autorização do comandante em 5 minutos o secador colocou os instrumentos de volta em uso. Ponto para a Angela I. Almoço do chef - Lingüiça do Iate Clube de Cape Town com salada de batatas e tomates (Lingüiça ao pau Spinaker, He he). Lanche às 16hs - milho cozido na espiga. Hoje desde cedo não avistamos mais ninguém. Tivemos problemas de transmissão de dados ontem e só hoje estamos enviando posições via e-mail.

Angela II

DIA 4 DE JAN 2009, 12:30hs

Após a largada às 14 hs no dia 3 jan permanecemos de genoa 3 até por volta da meia noite, vento fraco de 6 nós. Evoluimos pouco e ficamos no meio da flotilha. Noite estrelada com lua forte e muita visibilidade. O jantar as 9hs, preparado pelo chef foi arroz com guizado, farofa, ovos e milho. Para a primeira refeição foi aplaudido de pé. Levantou a moral e colocamos o geenaker por volta da meia noite com vento de 12 nós e o mesmo atingiu rajadas de 18 a 20 por volta das 2 da manhã. Renato iniciou o turno de 20hs as 22hs, depois eduardo até as 24hs. Ney assumiu então o timão com rajadas fortes e o barco evoluiu muito bem. Recuperamos varias posições com o barco atingindo 9 e 11 nós. Por volta de 1:30 o pé do geenaker soltou e tivemos que retirar a vela voltando a navegar até as 9hs só com genoa 3. No turno do Comodoro Streppel, as 3:30hs o piloto automático se entregou e estamos desde então no segundo piloto. Após o café do chef Ney Mario levantamos o balão com ventos de 16 a 20 nós. O barco esta andando entre 9 e 11 nós. Estamos todos bem, pois o mar e vento estão perfeitos. Sol alto e quente.
O Ney já preparou o almoço com receita do Paul Bocouse(?), frango na panela com cebola, alho e outras coisas mais. Vamos ver quem resiste.
até a proxima,

Eduardo

Dia 3
Posição: 33°46.4S 018°13.9E

Rumo 305°
Vento fraco - 8 nós de proa.
Faltam 1676 mn para a ilha de Santa Helena

A largada foi as 14:00 hrs local 12:00 GMT num dia de sol e pouco vento. Na largada tivemos vento de até 15 nós que foi caindo para 10-8 apos 30 minutos. Foi utilizada uma embarcação da marinha para dar a largada. O barco esta muito pesado. Com a experienca adquirida na travessia do Brasil para Cape Town não economizamos nos líquidos: 1000 litros de agua, 25 litros de suco de laranja, 250 latas de coca, e algumas cervejas, vinhos e whisky. Não vou revelar a quantidade de alcool pois posso ser mal interpretado pelo pessoal da varanda do clube com comentários do tipo: Só isto; vão passar necessidade, risco de motim a bordo ou dos familiares: que exagero, a bebida não leva a nada meus filhos, vão desenvover cirrose...


Largamos mais a sotavento da flotilha, perto da bóia pois queriamos passar perto da escuna onde estavam os familiares. Nos disseram que a regata seria em popa, mas ate o momento só vento pela proa; acho que tem pé frio a bordo. Ouvi a pouco um comentário da tripulação que vão censurar os e-mail, dependendo dos relatos. Onde está a liberdade de imprensa?
O Pixote ja largou doente novamente. Esta com o estômago "aborrido" - Mostesuma revanche. Acho que é a síndrome da largada.
Quem conhece o Ney Mario sabe que ele é metido a escritor. Quem sabe vou ter um ajudante para reportar a viagem. Ele, aproveitando o bom tempo, ja esta enfiado na cozinha preparando, conforme o próprio, "comida da Mãe", bem leve. A conferir.


Tripulação :

Renato Plass -Cmte
Eduardo PLass - Edu
Ney Mario Amaral - Ney
Augusto Cesar Streppel - Cesar
Paulo Mordente de Oliveira - Pixote

São agora 17:20 local e vamos abrir o bar
SDS,
Renato

 

capetown3

Galhardete do VDS no salão do Royal Cape Yacht Club

A regata Cape Town to Bahia é uma competição conhecida em todo o mundo e atrai iatistas profissionais e amadores e cruzeiristas. Nesta edição a regata do Atlântico Sul contará com cerca de 45 barcos e largará da Cidade do Cabo nos dias 3 e 10 de janeiro.
As largadas serão separadas conforme as classes de veleiros participantes, levando em conta os diferentes desempenhos de velocidade dos barcos. Assim, os organizadores querem garantir que todos possam desfrutar das festividades de entrega dos prêmios no evento em Salvador, na Bahia. O Ângela II, um barco de Bénéteau de 50 pés, correrá na classe cruzeiro e sua tripulação é formada por Renato Plass, Augusto César Streppel, Paulo Mordente, Eduardo Plass e Ney Amaral. O veleiro Ângela II saiu de Porto Alegre no dia 19 de outubro com destino a Cidade do Cabo. A travessia de 3.978 milhas pelo Atlântico Sul durou 31 dias.


As datas das largadas da Cidade do Cabo:
3 janeiro 2009 (Classe Cruzeiro)
7 de Janeiro de 2009 (classe 2 & 3 IRC)
10 de Janeiro de 2009 (classe 1 IRC)

A classe cruzeiro, na qual inclui os multicascos, vai velejar na rota de Cape Town para a ilha de Santa Helena, onde eles vão parar ao longo de um período mínimo de 48 horas, para explorar a ilha e para desfrutar da experiência real dos cruzeiros. As 3.500 milhas marítimas da regata é quase toda a favor do vento e geralmente o elemento tático é um fator preponderante para vencê-la. As condições meteorológicas nesta época variam aos extremos, com a possibilidade de ventos na Cidade do Cabo de até 55 nós de intensidade e ondas de 7 metros, ou de vento de meros 5 nós, com temperaturas extremas de calor.