Como idealizar e organizar um barco de cruzeiro a motor


Por Álvaro Otranto da nautica.com.br

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Sabemos que os barcos são usados desde a pré-história, quando pedaços de madeira foram unidos por cipós e se transformaram nas primeiras embarcações “construídas” de que temos notícia. Atualmente, processos ainda primitivos de escavamento de enormes troncos de árvores são preparados com fogo e ferramentas rústicas, para fins de navegação, como os encontrados em várias partes do mundo.

A princípio, estas embarcações foram construídas com a finalidade de alcançar comida em outras localidades, somente acessíveis por mar ou isoladas por braços de rios ou algum espelho de água. Hoje em dia, embarcações gigantescas cruzam os mares em altas velocidades, transportando todo o tipo de carga. O Iatismo, como sabemos, usa o barco como forma de prazer e satisfação, e divido as duas, pois o prazer é trazido pela beleza das paisagens, o sabor da comida e a qualidade dos serviços de bordo, mas a satisfação é algo mais abrangente, que se alcança pelo conjunto das atividades praticadas, o ambiente, a companhia e até mesmo o status que vem com o ter uma embarcação aqui chamada de esporte e recreio, mas que não traduz devidamente a feliz expressão inglesa: pleasure boat.

Como defensor das embarcações de cruzeiro, a vela ou a motor, ergo aqui a bandeira de que o prazer precisa ser lento, pois se prolonga, e me perdoem a analogia capciosa, mas uma noite inteira de amor é bem melhor do que um encontro passageiro. O prazer de navegar vagarosamente, por baias e enseadas é intenso, pois permite que se desfrute de cada ângulo e detalhe. Quando cruzamos em alta velocidade, recebemos uma descarga de adrenalina muitas vezes desnecessária, pois o que se busca em um fim de semana ou passeio de barco é o relaxamento e não a continuação da vida atribulada de uma grande cidade.

Este espaço será dedicado a idealizar, projetar, organizar e preparar um barco de cruzeiro a motor destinado a acolher pessoas que pretendam realizar viagens ou mesmo morar a bordo de uma embarcação confortável e segura, que use a propulsão mecânica. Porém, que fique claro que desde o início deste tipo de navegação “amadora” a vela e os motores sempre estiveram juntos, e por muito tempo os barcos de propulsão mista foram os mais numerosos. Ainda hoje, os barcos do tipo Passagemaker usam uma pequena vela, tanto para dar uma certa estabilidade quanto para auxiliar e economizar combustível em longas pernadas de ventos favoráveis. Não iremos considerar os velejadores como concorrentes, lutando pela mesma enseada, mas parceiros de modo de vida, que usam métodos diferentes para alcançar a mesma finalidade, ou seja, navegar com prazer.

Barcos a vela têm suas vantagens, como o uso de propulsão limpa e até certo ponto infinita, mas o esforço físico necessário nas manobras, o desconforto de se navegar com o barco adernado por vários dias, o cozinhar e comer numa gangorra e ter de chamar seu banheiro de “câmara de torturas” é algo duro, sem mencionar o lugar comum, conhecido por todos os que navegam: “Um veleiro não sabe exatamente quando deixará um porto, e não tem a mínima ideia de quando chegará ao seu destino”.

Pregamos aqui um modo de navegar grandes distâncias, sem precisar da escolta de um navio-tanque, podendo programar suas partidas e chegadas com um mínimo de precisão, e desfrutando da maioria dos confortos da vida moderna, evidentemente obedecendo ao poder aquisitivo de cada proprietário de embarcação. No próximos artigos, iremos notar que as semelhanças entre os barcos a vela ou a motor de cruzeiro obedecem a uma certa lógica comum e que a tradição de um pode auxiliar o outro a melhor se adaptar as dificuldades do dia-a-dia a bordo de um barco.

Alvaro Otranto é navegador de longas travessias, um dos mais antigos colaboradores da revista Náutica e criador da Moana Livros, primeira livraria na internet especializada em temas de mar e aventura.